
Dados do Perinatal Health Report de 2010, realizado no âmbito do projeto EURO-PERISTAT estimam que a prevalência de tabagismo durante a gravidez seja de 10%, variando entre os 5 e os 20% consoante os países. No estudo europeu, cerca de 90% das mulheres fumadoras deixaram o tabaco durante a gravidez. No braço português do estudo, verificou-se que essa percentagem foi de apenas 47%.
Estes dados preocupam a comunidade médica, que mantém o tema do tabagismo na agenda de eventos científicos ano após ano.
Para Ana Figueiredo, coordenadora da Comissão de Tabagismo da SPP, “o tabagismo é algo que deve ser combatido independentemente da idade e da condição física. Conhecidos os riscos do tabaco na gravidez, é fundamental promover uma maior consciência de grupos sensíveis como as grávidas e, à semelhança do álcool, dever-se-ia incutir a total proibição do seu consumo, sem qualquer exceção”.
“É um erro manter os hábitos tabágicos durante a gravidez, ainda que reduzidos. Apesar de muitos médicos defenderem o limite de cinco cigarros/dia como forma de combater a tensão gerada pela privação de nicotina, a verdade é que existem inúmeras formas seguras de combater os sintomas associados à privação de tabaco”, acrescenta Joana Abreu Lopes, Psiquiatra do Hospital de Vila Franca de Xira.
Para Carlos Robalo Cordeiro, pneumologista do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, “a luta contra o tabagismo tem sido uma das grandes preocupações da sociedade que tem mobilizado todos os meios para levar a cabo as mais eficazes políticas de prevenção das doenças respiratórias. Apesar de em Portugal existir um esforço importante no sentido de aumentar o número de consultas de Cessação Tabágica, quer a nível hospitalar, quer dos centros de saúde, a maior dificuldade reside na própria consciência da sociedade”.
Nicotina, monóxido de carbono, amónia, óxido de azoto e chumbo são algumas das mais prejudiciais substâncias que afetam todos os que se encontram expostos, direta ou indiretamente ao tabagismo. Os efeitos adversos do fumo nos mais variados grupos têm sido amplamente estudados, dando a conhecer estudos que mostram por exemplo que, no caso das grávidas, a nicotina passa de forma rápida a placenta, atingindo concentrações no feto 15% superiores às do sangue materno.
Exposição passiva a fumo atinge 8,6% da população
8,6% da população com 15 ou mais anos esteve exposta a fumo passivo, designação habitual para a exposição ambiental ao fumo do tabaco, durante o ano passado. Os dados são do Inquérito Nacional de Saúde (INS) 2014, divulgados há dias que referem que da população exposta a fumo passivo, 38,3% referiu ter estado exposta diariamente em locais de lazer, 31% na sua própria casa e 20,5% no local de trabalho.
Para a coordenadora do INS, Mariana Neto, estes “resultados são sugestivos de que a aplicação da lei não tem sido muito rigorosa, sete anos após a sua publicação, sobretudo nas componentes de lazer e do local de trabalho. Um aspeto que deverá ser tido em consideração pelas autoridades de saúde, autoridades com responsabilidade na área da cultura e também na administração do trabalho”, alerta a especialista do Instituto Ricardo Jorge, citada em comunicado divulgado na página do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
Outro dos dados apurados pelo INS 2014 é o de que 16,8% da população com 15 ou mais anos mantinha hábitos tabágicos diários. Verificou-se ainda haver uma maior prevalência no género masculino (23,5%) comparativamente ao feminino (10,9%).
A exposição involuntária ao fumo do tabaco foi regulamentada em 2007 com a publicação da Lei n.º 37/2007, de 14 de Agosto, a qual proíbe o consumo de tabaco nas salas e recintos de espetáculos, recintos de diversão, zonas fechadas das instalações desportivas e nos locais de trabalho, entre outros.
O fumo do tabaco liberta no ambiente uma combinação de mais de 7.000 compostos químicos, sendo um número substancial conhecido pelos seus efeitos tóxicos ou cancerígenos. A eliminação da exposição ao fumo do tabaco constitui uma forma eficaz de diminuir o número de mortes evitáveis e doenças crónicas, especialmente do foro respiratório e cardiovascular.
O INS 2014 foi realizado em conjunto pelo INSA, em todo o território nacional. O principal objetivo deste Inquérito é caracterizar a população em três grandes domínios: estado de saúde, cuidados de saúde, incluindo os cuidados preventivos, e os determinantes de saúde, em especial os que estão relacionados com estilos de vida.
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