Jornal Médico - Ana Fatela: A menopausa “não é uma condição apenas das mulheres mais velhas”

Com vista a dar mais relevância às etapas e condições específicas da saúde feminina, as Jornadas Patient Care contaram com uma sessão inteiramente focada no tema. Os casos clínicos apresentados propuseram esclarecer áreas menos claras no que diz respeito. Quanto à menopausa, foram tidas em conta as questões que se colocam quanto à decisão terapêutica adequada. Ana Fatela, assistente graduada sénior de Ginecologia/Obstetrícia do CHULC - Polo MAC e também fundadora e responsável da Consulta de Menopausa da MAC, trouxe aos presentes na sessão “Casos Clínicos– Saúde da Mulher”, um caso clínico sobre menopausa. Saiba mais na edição 140 do Jornal Médico. A especialista apresentou um caso de uma mulher de 36 anos, contabilista, com as seguintes caraterísticas: Menarca aos 10 anos, ciclos regulares, cataménios de quatro dias, fluxo normal, dismenorreia ligeira, método barreira IO:0000 e última menstruação há cinco meses; Antecedentes pessoais: Asma, sem cirurgias, sem tabagismo; Antecedentes familiares: Pai com HTA e mãe com hipotiroidismo. A utente foi encaminhada pelo médico assistente para a Consulta de Menopausa da MAC por amenorreia desde há 5 meses e afrontamentos, com exame ginecológico manual sem alterações. Após resultado de teste imunológico da gravidez negativo, “obrigatório em qualquer mulher em idade reprodutiva com irregularidades menstruais”, o próximo passo, como informou a oradora, foi “solicitar os níveis prolactina sérica para despiste de hiperprolactinemia e de TSH para despistar alterações na tiroide, que são causa frequente de irregularidades menstruais e de insuficiência ovárica prematura (IOP)”. E, com efeito, “os resultados revelaram níveis de prolactina e de TSH normais, mas uma hormona folículo-estimulante (FSH) elevada (43), que repetiu 6 semanas depois (45), e que confirmou o diagnóstico de IOP”, revelou a especialista. Ora, como explicou Ana Fatela, “a IOP carateriza-se por hipogonadismo hipergonadotrófico em mulheres com <40 anos (surge cerca de 1-3% das mulheres), e que apresentam sintomas semelhantes aos da menopausa, estando associado a oligomenorreia/amenorreia, sintomas de défice de estrogénios e níveis de gonadotrofina com níveis semelhantes aos da menopausa. Esta pode ser espontânea ou induzida, sendo que entre 5-15% podem engravidar e ter uma gravidez normal, daí que a etiologia seja na maior parte das vezes idiopática”, o que acabou por ser confirmada nas “análises aos anticorpos realizadas nesta utente, todas elas negativas”. Quanto ao tratamento da IOP, a especialista lembrou que “é fundamental considerar os sintomas de hipoestrogenismo, o risco de osteoporose, de doenças CV, de insuficiência adrenal, a sua saúde emocional e a fertilidade, sendo a terapêutica hormonal (TH) é a resposta em primeira linha - e, em alguns casos, estrogénios tópicos”. Contudo, como também advertiu Ana Fatela, “a informação dada a esta mulher tem de ser clara, pois o medo da TH ainda é frequente, apesar de sabermos que esta não aumenta o risco de cancro da mama antes da idade da menopausa natural”. Como tal, “deve ser oferecida a dose adequada à idade da mulher, que é no mínimo 100 mg/dia de estradiol transdérmico ≅ 2 mg/dia de estradiol micronizado oral e, caso a mulher não queira engravidar, fornecida contraceção hormonal combinada (COC), estradiol combinado com SIU de levenorgestrel ou TH + método de barreira”, sabendo-se que “a TH pós menopausa não tem efeito contracetivos, mas sim proteção óssea, efeitos benéficos na tensão arterial, menor risco de TEV” e que “a COC, tem, além do efeito contracetivo, apresenta um benefício psicológico e proteção óssea”, destacou a preletora. No caso das mulheres com útero “devemos sempre associar um progestagénio para prevenir hiperplasia e carcinoma do endométrio”, que pode ser dado num regime cíclico (progesterona micronizada e didrogesterona), contínuo ou ainda em combinação. Depois, “é fundamental a modificação do estilo de vida, com controlo dos fatores de risco e suporte emocional caso necessário”, acrescentando a oradora que, “na mulher do caso clínico apresentado não há qualquer indicação para fazer bifosfonatos”. Desta forma, sintetizou a preletora, “a doente foi medicada com estradiol transdérmico (100 mcg/dia) e como não pretendia engravidar, foi colocado um SIU levonorgestrel da MAC para apoio psicológico”. A TH foi instituída durante cinco anos, “pois aos 41 anos esta utente decidiu engravidar (com os seus óvulos), tendo tido um parto gemelar os 44 anos”. E agora, já numa menopausa precoce, “foi medicada com estradiol transdérmico (50 mcg/dia) e SIU levonorgestrel (52mg)”, informou Ana Fatela. Quinze anos depois, com 51 anos, “a utente encontra-se medicada para a diabetes e para a HTA, sofrendo agora de obesidade (95 kg). O exame ginecológico mostrou atrofia vulvovaginal ligeira, colo sem alterações aparentes e palpação bimanual sem alterações”. A avaliação do perfil lipídico foi, por isso, “relevante para avaliação e tratamento desta utente, tendo sido avaliado também o seu risco CV”. Segundo a médica, “os resultados das análises revelaram uma diabetes e colesterol controlados, apresentando um risco de evento CV aos 10 anos de 3.3%, o que indica que pode continuar a TH (já o risco moderado – 10-20% - requer o uso de TH transdérmica)”. Desta forma, “foi decidido baixar a dose de estradiol transdérmico (25 mcg/dia), pois tem um menor efeito protrombótico e não influencia os triglicéridos, e manter SIU levonorgestrel (52 mg) – o último DIU foi colocado aos 49 anos e ainda estava atual”. Dezoito anos depois, a utente decidiu parar a TH, “sendo a decisão acertada manter a terapêutica local de prevenção com estrogénios vaginais, pois são recomendados em mulheres com sintomas de atrofia urogenital quer utilizem ou não TH sistémica, além dos hidratantes em caso de dispareunia, e, por fim, se tiver afrontamentos realizar uma terapêutica alternativa com antidepressivo na mais baixa dose possível”.

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