Jornal Médico - Especialistas debatem cuidados de saúde com base em valor

A introdução do conceito de Value-Based Health Care (VBHC) no Serviço Nacional de Saúde é útil para todos os agentes do sistema de saúde, uma vez que irá permitir que todos passem a fazer escolhas mais informadas, disse o chair da NOVAsaúde | Value Improvement in Health and Care, João Marques Gomes, durante o Portugal Value Meeting for Health and Care 2018, que decorreu esta quinta-feira, na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa. Com base nos dados estatísticos da OCDE, João Marques Gomes mostrou que existe uma grande variação ao nível da prestação de cuidados de saúde entre os países da Europa. “Estamos a financiar cuidados de saúde e práticas de saúde que não são tão boas quanto poderiam ser”, exemplificou, lembrando que esta situação acaba por ter uma implicação direta na vida do doente que, muitas vezes, vê a doença evoluir para estadios mais graves, mesmo após uma intervenção cirúrgica. “Nunca se esqueçam que a melhor maneira de não haver custos é não haver doentes. Portanto, o nosso trabalho deve ser trabalhar para ter o menos número de doentes possível”, sublinhou. Com o auditório praticamente lotado, a iniciativa, promovida pela plataforma estratégica NOVAsaúde | Value Improvement in Health nad Care e coorganizada pela Nova School of Business & Economics e pela Nova Medical School, fomentou, uma vez mais, o debate entre especialistas nacionais e internacionais sobre a importância da medição dos resultados em saúde com base no valor criado para o doente. Em declarações ao Jornal Médico, o presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, Carlos Pereira Alves, começou por referir que considera bastante importante caminhar “no sentido de medir resultados em saúde/ganhos em saúde”. Contudo, o grande desafio passa por saber “de que forma podem ser medimos esses resultados”, uma vez que existem inúmeras variáveis passíveis de serem medidas. Por exemplo, “no caso da Cirurgia, as variáveis prendem-se com o doente, com a doença, e com o cirurgião”, ou seja, com base nestes três fatores podem surgir diferentes resultados/ganhos em saúde. Carlos Pereira Alves sublinhou, ainda, a importância das TIC na recolha de resultados em Saúde. “A informática está a permitir, cada vez mais, realizar análises estatísticas com base diversas variáveis”. “No fundo, os resultados [com base em valor] estão muito ligados à boa prática clínica. Um médico que tenha uma boa prática clínica, terá, certamente, bons resultados a este nível”, sintetizou o especialista, lembrando que os próprios clínicos devem ter interesse em saber os resultados que produzem. Já o presidente da Secção Regional do Sul da Ordem dos Médicos, Alexandre Lourenço, que marcou presença no evento em representação de Miguel Guimarães, começou por destacar o trabalho desenvolvido por Micael Porter sobre a dificuldade de implementação do conceito de saúde com base em valor, na prática, nos Estados Unidos. Segundo o responsável da OM, “os médicos e as respetivas equipas estão habituados a comparar resultados sem terem informação económico-financeira adequada para colocar o fator ‘dinheiro’ nessa mesma avaliação”, logo, no futuro, o desafio passa por colmatar esta dificuldade. Alexandre Lourenço abordou também a questão da falta de literacia em saúde dos doentes que desconhecem, muitas vezes, os conceitos relacionados com o tema em causa, nomeadamente perceberem em que consiste a ideia de outcomes [resultados] em saúde ao nível do doente. O fundador da Martini-Klinic, Hartwig Huland, na Alemanha, partilhou com os conferencistas os surpreendentes resultados cirúrgicos numa das áreas mais complexas da Urologia. Note-se que esta é a maior clínica especializada em cancro da próstata do mundo, realizando cerca de 200 cirurgias por ano. De acordo com Hartwig Huland, “o segredo para o sucesso está no princípio básico de otimizar os resultados do tratamento”. Além de oferecer um tratamento da mais alta qualidade, a clínica alemã oferece também apoio psicológico aos doentes. Por outro lado, ao dispor de um sistema de documentação de dados, que reúne os resultados de todo o acompanhamento oferecido aos doentes, a Martini-Klinic consegue regular a qualidade dos seus próprios serviços e aconselhar os doentes com base em dados concretos. Durante o encontro foram também apresentadas investigações nacionais e internacionais sobre as áreas do cancro da mama, artrite reumatoide e cirurgia cardiotorácica. Pode, ainda, destacar-se a presença da diretora da Divisão de Saúde da OCDE, Francesca Colombo, que falou sobre a iniciativa PaRIS com dados relatados pelos próprios doentes, bem como a presença do diretor de Finanças e de Compras de NHS Wales, Glyn Jones, que explicou de que forma o serviço nacional de saúde do seu país tem usado VBHC para fazer compras. O evento contou com a presença de grandes nomes da área da Saúde em Portugal, nomeadamente do presidente do Centro Hospital Universitário de São João, António Oliveira e Silva, a CEO da Luz Saúde, Isabel Vaz, e o vice-presidente do Infarmed, Rui Santos. O vice-reitor da Universidade Nova de Lisboa, José Fragata, que fez questão de destacar a pertinência e importância do tema na atualidade, o chair da Nova SBE Health Economics & Management, Pedro Pita Barros, e o presidente da ARSLVT, em representação da ministra da Saúde, Luís Pisco, foram outras das figuras presentes no encontro. Recorde-se que, já em 2017, a Universidade Nova organizou a Conferência ICHOM em Portugal, a primeira discussão nacional sobre a importância da implementação do modelo de VBHC, que reuniu cerca de 500 participantes.

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