Jornal Médico - Produto: Saúde

Pode ser que um dia ou&ccedil;a o INFARMED a fazer este balan&ccedil;o... Mesmo sabendo que as decis&otilde;es s&atilde;o governamentais... Mesmo fazendo de conta que o INFARMED &eacute; a entidade reguladora do medicamento em Portugal... A OMS tem vindo a trabalhar numa nova estrat&eacute;gia de sa&uacute;de, em torno da ideia estimulante, dos desafios para o s&eacute;culo XXI, sendo que de algum modo, j&aacute; vamos correndo atrasados... Como quer que seja, os conceitos essenciais s&atilde;o justamente os que nos deveriam levar a centrar a discuss&atilde;o sobre os cidad&atilde;os, ou como se diz agora, os "clientes". Sabemos, de h&aacute; muito, que os determinantes da sa&uacute;de e da doen&ccedil;a, jogam numa din&acirc;mica cont&iacute;nua e constante de altern&acirc;ncias, as quais acentuam pesos relativos e sentidos antag&oacute;nicos no resultado final. Os exemplos s&atilde;o muitos e as pessoas nem sempre se apercebem de como, por vezes, as mesmas quest&otilde;es conduzem a perspectivas diferentes: o peso ou a sobrecarga ponderal se preferirem, acaba por ser um factor ben&eacute;fico ou favor&aacute;vel quando falamos de osteoporose, mas assume-se como um factor claramente desfavor&aacute;vel e negativo quando pensamos no quadro de osteoartrose, em particular dos membros inferiores... Os estilos de vida e tamb&eacute;m os comportamentos, a par talvez dos h&aacute;bitos de exerc&iacute;cio, s&atilde;o, cada vez mais, os grandes determinantes da sa&uacute;de e da doen&ccedil;a. Nesta linha, compreende-se melhor como se poder&aacute; falar, actualmente, do produto - Sa&uacute;de. A sa&uacute;de, enquanto produto. E quem s&atilde;o os produtores? Os profissionais e os doentes! H&aacute; muita literatura que documenta, sustenta, discute e conclui sobre esta mat&eacute;ria, nomeadamente do que se l&ecirc; acerca do "disease management" e a prop&oacute;sito do refor&ccedil;o dos sistemas de sa&uacute;de e da integra&ccedil;&atilde;o de cuidados. Bodenheimer, pelo menos desde 2000, que o mant&ecirc;m como o foco de an&aacute;lise, defendendo uma integra&ccedil;&atilde;o planeada e atenta, que pode ser estrutural ou funcional. J&aacute; o sistema portugu&ecirc;s tem vindo a patinar, nesse modelo caracter&iacute;stico e triste que, por sina, nos tocou e afunda. Isto &eacute;, hesita entre modelos e vias organizacionais: repare-se nos dois exemplos cl&aacute;ssicos e imediatos em curso nos Cuidados Prim&aacute;rios... Por um lado, os ACES em articula&ccedil;&atilde;o e parceria com os Hospitais de refer&ecirc;ncia e, por outro, as Unidades Locais de Sa&uacute;de (ULS), num sistema mais vertical. No plano funcional, a integra&ccedil;&atilde;o de cuidados representa uma das ambicionadas solu&ccedil;&otilde;es dos profissionais de sa&uacute;de e dos m&eacute;dicos em especial. A integra&ccedil;&atilde;o traduz-se na concep&ccedil;&atilde;o do processo cl&iacute;nico &uacute;nico ou unificado, em defini&ccedil;&atilde;o de protocolos de actua&ccedil;&atilde;o e orienta&ccedil;&atilde;o diagn&oacute;stica e terap&ecirc;utica, em &aacute;rvores de referencia&ccedil;&atilde;o compreensiva e operacional, em informa&ccedil;&atilde;o e educa&ccedil;&atilde;o dirigidas aos doentes e/ou aos seus cuidadores e em programas pedag&oacute;gicos de forma&ccedil;&atilde;o cont&iacute;nua integrada, com est&aacute;gios e visitas de estudo. &Eacute; &agrave; luz deste enquadramento e destas leituras mais recentes que, julgo eu, se imp&otilde;e, por parte dos cl&iacute;nicos, uma tomada de consci&ecirc;ncia e uma aprendizagem para todas estas novas realidades e conhecimentos - da economia da sa&uacute;de, da gest&atilde;o, do marketing, da farmacoeconomia, da sociologia, da demografia e das demais ci&ecirc;ncias sociais - que desperte, actualize e revitalize para a defesa dos interesses dos doentes, dos cidad&atilde;os e dos m&eacute;dicos. O papel da Ordem dos M&eacute;dicos est&aacute; em perigo e parece que a rela&ccedil;&atilde;o entre os novos e jovens colegas e a institui&ccedil;&atilde;o enfraquece a cada dia que passa. Com os m&eacute;dicos mais velhos, o alheamento crescente &eacute; assustador e preocupante. A Ordem dos M&eacute;dicos necessita de se projectar para o exterior, difundir as suas posi&ccedil;&otilde;es e para isso deve concert&aacute;-las e assumi-las. Mas deve igualmente - e para dentro - tentar reanimar o esp&iacute;rito adormecido de gera&ccedil;&otilde;es que deixaram de se rever na Ordem ou, no m&iacute;nimo, de dela se lembrarem... Em Portugal, os mecanismos de governa&ccedil;&atilde;o s&atilde;o sempre muito estranhos, esquisitos... sui generis. Al&eacute;m disso, habituados a pautar as suas actua&ccedil;&otilde;es e iniciativas pelos calend&aacute;rios eleitorais e pelos indicadores das sondagens, perdem a capacidade de planificar e a adequar os objectivos a estrat&eacute;gias a prazo, sendo que s&oacute; estas produzem efici&ecirc;ncia e saltos qualitativos. As op&ccedil;&otilde;es de curto prazo revelam-se avulsas e desarticuladas, por regra condenadas ao insucesso e ao abandono precoce. O problema, por&eacute;m, passa pela n&atilde;o responsabiliza&ccedil;&atilde;o de quem as toma ou implementa. Ainda num passado bem recente e a respeito da pol&iacute;tica do medicamento e dos gen&eacute;ricos, o que vimos? Primeiro, campanhas chorudamente pagas, quer nos meios de comunica&ccedil;&atilde;o social, quer para distribui&ccedil;&atilde;o nas farm&aacute;cias e nos estabelecimentos do SNS de material informativo sobre os gen&eacute;ricos... Depois, sistemas de majora&ccedil;&atilde;o para os utentes que adquirissem medicamentos gen&eacute;ricos, com os tais 10% adicionais... Mais tarde, a elimina&ccedil;&atilde;o dessa disposi&ccedil;&atilde;o, nunca explicada convenientemente... A seguir, veio essa da oferta e da gratuitidade dos gen&eacute;ricos, numa medida que gostaria - e se fosse deputado exigiria - fosse esclarecida por escrito... A fim de sabermos quanto custou ao er&aacute;rio p&uacute;blico... que &eacute; de todos n&oacute;s! E depois, "comme toujours", a supress&atilde;o desse regime de gratuitidade que levou a consumismos e despesismos bem &agrave; moda lusitana... Mas isto sou eu a pensar por escrito... Pode ser que um dia ou&ccedil;a o INFARMED a fazer este balan&ccedil;o. Mesmo sabendo que as decis&otilde;es s&atilde;o governamentais... Mesmo fazendo de conta que o INFARMED &eacute; a entidade reguladora do medicamento em Portugal... Rui Cernadas Este endereço de email está protegido contra piratas. 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