Jornal Médico - Trabalhar... Numa ruína

Tomadas el&eacute;ctricas tapadas de improviso, remendadas com fita adesiva. Grandes manchas de humidade e infiltra&ccedil;&otilde;es a cobrir tectos e paredes. Aus&ecirc;ncia de salas de espera para utentes e de gabinetes individualizados, para cada profissional de sa&uacute;de. &Eacute; assim, em Ramalde... A equipa que integra a Unidade de Sa&uacute;de Familiar Ramalde e os utentes por si servidos aguardam, h&aacute; cerca de cinco anos, que arranquem as obras do novo edif&iacute;cio, onde ser&aacute; finalmente poss&iacute;vel garantir condi&ccedil;&otilde;es de trabalho e de atendimento condignas. Apesar de j&aacute; existir um projecto elaborado por um arquitecto da Administra&ccedil;&atilde;o Regional de Sa&uacute;de do Norte - com contributos v&aacute;lidos dos profissionais de Ramalde - bem como um terreno camar&aacute;rio dispon&iacute;vel para acolher o im&oacute;vel... O processo continua parado. O secret&aacute;rio de Estado Adjunto e da Sa&uacute;de tem-se envolvido directamente na tentativa de encontrar uma solu&ccedil;&atilde;o e afirma, sem reservas, que existem verbas dispon&iacute;veis para concretizar a empreitada. Entretanto, a autarquia do Porto ainda n&atilde;o autorizou o in&iacute;cio das obras, uma vez que aguarda por contrapartidas financeiras do Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de para ceder o lote e necessita de resolver uma penhora colocada por um empreiteiro respons&aacute;vel por edifica&ccedil;&otilde;es pr&eacute;-existentes Tomadas el&eacute;ctricas tapadas de improviso, remendadas com fita adesiva. Grandes manchas de humidade e infiltra&ccedil;&otilde;es a cobrir tectos e paredes. Aus&ecirc;ncia de salas de espera para utentes e de gabinetes individualizados, para cada profissional de sa&uacute;de. De tudo isto (e muito mais) se podem queixar os profissionais da Unidade de Sa&uacute;de Familiar (USF) Ramalde e perto de 14 mil utentes da regi&atilde;o metropolitana do Porto. Desde os tempos em que a unidade se organizava em Regime Remunerat&oacute;rio Experimental (RRE), no in&iacute;cio da primeira d&eacute;cada do s&eacute;culo XXI, que todos os esfor&ccedil;os t&ecirc;m sido encetados para remover a unidade das actuais instala&ccedil;&otilde;es, degradadas. Inicialmente, a equipa (em conjunto com a Administra&ccedil;&atilde;o Regional de Sa&uacute;de do Norte - ARSN) pensara em alugar um espa&ccedil;o com 800 m2, que respondia &agrave;s necessidades do servi&ccedil;o de sa&uacute;de. Tudo estava pronto para avan&ccedil;ar e at&eacute; o valor da renda se encontrava determinado. Em 2006, o actual secret&aacute;rio de Estado Adjunto e da Sa&uacute;de, Manuel Pizarro (ent&atilde;o vereador socialista na C&acirc;mara Municipal do Porto), surgiu com uma proposta alternativa: aproveitar um terreno da autarquia no Bairro das Campinas para erigir o novo edif&iacute;cio. O projecto foi desenvolvido por um arquitecto da ARSN - com base nos aportes dos profissionais - e tudo parecia caminhar no bom sentido. Por&eacute;m, o processo tem-se arrastado de forma penosa e, num espa&ccedil;o de cinco anos, revelou-se imposs&iacute;vel desatar o n&oacute;. Aparentemente, a autarquia do Porto n&atilde;o est&aacute; disposta a ceder o lote sem qualquer tipo de compensa&ccedil;&atilde;o da administra&ccedil;&atilde;o central. Por outro lado, no referido terreno est&atilde;o ainda de p&eacute; as bases de um outro edif&iacute;cio que ali come&ccedil;ou a ser constru&iacute;do, para fins n&atilde;o relacionados com a presta&ccedil;&atilde;o de cuidados de sa&uacute;de (albergaria um centro de dia para a terceira idade e uma creche). O empreiteiro respons&aacute;vel por essa obra abortada entrou em processo de lit&iacute;gio (por alegada falta de pagamento) e veio dificultar, ainda mais, os planos dos profissionais e utentes de Ramalde. Hoje em dia, as ru&iacute;nas que ocupam o lugar onde deveria nascer o novo edif&iacute;cio da USF Ramalde servem de abrigo &agrave; delinqu&ecirc;ncia, a escassos metros de um estabelecimento de ensino. Pese embora as &aacute;guas agitadas, assim como o ambiente urbano sens&iacute;vel e heterog&eacute;neo (uma grande fatia dos utentes inscritos na USF pertence a fam&iacute;lias desfavorecidas, que vivem em bairros sociais, paredes meias com habita&ccedil;&otilde;es de luxo), aquela equipa de Sa&uacute;de tem conseguido ganhos em sa&uacute;de , muito apreci&aacute;veis. Mudan&ccedil;a &eacute; urgente... para evitar des&acirc;nimo Segundo a coordenadora da USF Ramalde, os profissionais receberam, logo em 2008, garantias da ARSN de que veriam o seu problema resolvido, a breve trecho. "Temo que haja quest&otilde;es pol&iacute;ticas no meio disto tudo. No fim, somos n&oacute;s que acabamos por pagar a factura", queixa-se C&acirc;ndida Palmeir&atilde;o. A mesma respons&aacute;vel declara que, de acordo com informa&ccedil;&otilde;es por si recolhidas, o processo est&aacute; agora nas m&atilde;os da c&acirc;mara municipal, pelo que s&oacute; &eacute; preciso levar &agrave; pr&aacute;tica o que est&aacute; no papel: "se o projecto arquitect&oacute;nico for executado como o conhecemos e ajud&aacute;mos a conceber, tudo terminar&aacute; bem. &Eacute; um projecto muito bem feito". Mesmo que a localiza&ccedil;&atilde;o n&atilde;o seja a melhor (o Bairro das Campinas continua a ser uma das paragens problem&aacute;ticas da Invicta), utilizadores e trabalhadores da USF veriam com bons olhos uma mudan&ccedil;a imediata para o terreno camar&aacute;rio em quest&atilde;o: "estar&iacute;amos dispostos a aceitar a troca, porque as instala&ccedil;&otilde;es seriam incomparavelmente melhores", confessa C&acirc;ndida Palmeir&atilde;o. De facto, a coordenadora recorda que s&atilde;o muitas as dificuldades do quotidiano, problemas a riscar do pensamento caso se entrasse num novo cen&aacute;rio: "o espa&ccedil;o para os gabinetes &eacute; muito pequeno, quer para m&eacute;dicos, quer para enfermeiros, o que significa que os enfermeiros n&atilde;o t&ecirc;m consult&oacute;rios individuais. A sala de tratamentos &eacute; de tamanho reduzido e pouco funcional, a sala de inject&aacute;veis min&uacute;scula. N&atilde;o dispomos de uma arrecada&ccedil;&atilde;o para todo o material que nos chega. Os utentes, quando entram, t&ecirc;m muito pouco espa&ccedil;o para se sentar e ficam a aguardar mesmo em frente &agrave; &aacute;rea administrativa. Temos infiltra&ccedil;&otilde;es em v&aacute;rios s&iacute;tios e, qualquer dia, a instala&ccedil;&atilde;o el&eacute;ctrica d&aacute; o estouro. No Ver&atilde;o, o edif&iacute;cio parece uma estufa e s&oacute; dispomos de algumas ventoinhas, j&aacute; que n&atilde;o existe qualquer sistema de climatiza&ccedil;&atilde;o". Na perspectiva de C&acirc;ndida Palmeir&atilde;o, seria importante que o processo fosse conclu&iacute;do sem demoras, de modo a que a indigna&ccedil;&atilde;o entre utentes e profissionais n&atilde;o ganhasse propor&ccedil;&otilde;es insuport&aacute;veis: "sentimo-nos injusti&ccedil;ados por continuarmos neste vai n&atilde;o vem, relativamente a instala&ccedil;&otilde;es que h&aacute; muito nos foram prometidas. Estamos bem como equipa, trabalhamos com qualidade, mas gostar&iacute;amos que o nosso trabalho fosse acompanhado de condi&ccedil;&otilde;es apropriadas". ACES compreende e apoia profissionais O director executivo do Agrupamento de Centros de Sa&uacute;de (ACES) Porto Ocidental, Rui Medon, foi em tempos coordenador do RRE de Ramalde e conhece muito bem a realidade (presente e passada) que envolve esta unidade. Para este dirigente, n&atilde;o h&aacute; qualquer d&uacute;vida de que "o projecto criado pelo arquitecto da ARSN - e com o qual a USF Ramalde colaborou - &eacute; &oacute;ptimo. O que &eacute; facto &eacute; que desde 2006 ele permanece por concretizar". Rui Medon prefere n&atilde;o se pronunciar sobre as informa&ccedil;&otilde;es dispersas que lhe t&ecirc;m chegado aos ouvidos e que justificam porque o edif&iacute;cio ainda n&atilde;o avan&ccedil;ou, mas garante que o resultado final &eacute; uma tremenda perversidade: "ao fim de todo este tempo, uma USF com t&atilde;o bons resultados como a de Ramalde continua numa situa&ccedil;&atilde;o periclitante. Ao n&iacute;vel da Enfermagem, o espa&ccedil;o &eacute; mesmo muito limitado. Aqueles enfermeiros fazem milagres, para se conseguirem coordenar e darem a melhor resposta poss&iacute;vel aos doentes!". No 1&ordm; Encontro do ACES Porto Ocidental, realizado em 9 de Outubro do ano passado, o director executivo mencionou mesmo na sua interven&ccedil;&atilde;o o caso de Ramalde, dando nota p&uacute;blica de como est&aacute; preocupado: "&eacute; chegada a hora dos profissionais - j&aacute; para n&atilde;o falar primeiro dos utentes - merecerem umas instala&ccedil;&otilde;es adequadas". Dinheiro para a empreitada n&atilde;o falta Manuel Pizarro confirmou o M&eacute;dico de Fam&iacute;lia que est&atilde;o reunidas as condi&ccedil;&otilde;es financeiras para colocar um ponto final neste assunto: "temos o projecto elaborado para a nova USF e o financiamento assegurado. O que tem acontecido &eacute; que nos temos deparado com muitas dificuldades na ced&ecirc;ncia do espa&ccedil;o, por parte da C&acirc;mara Municipal do Porto. Isto porque, entretanto, ocorreu uma penhora &agrave; ordem do antigo empreiteiro. Apesar de tudo, temos a expectativa de que ser&aacute; poss&iacute;vel ultrapassar este constrangimento. Logo que possamos tomar posse do espa&ccedil;o f&iacute;sico, arrancaremos de imediato com o concurso para a obra". O investimento na empreitada ser&aacute; de aproximadamente um milh&atilde;o de euros, de acordo com o secret&aacute;rio de Estado Adjunto e da Sa&uacute;de. O governante assegura tamb&eacute;m que, neste momento, o Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de e a autarquia portuense est&atilde;o envolvidos em conversa&ccedil;&otilde;es para ultrapassar este impasse e chegar a um desenlace positivo, para todas as partes. O nosso jornal procurou saber, junto do Gabinete de Comunica&ccedil;&atilde;o da C&acirc;mara Municipal do Porto, para quando se previa a ced&ecirc;ncia do terreno e se a mesma estaria condicionada a uma moeda de troca, entregue pelo Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de. At&eacute; &agrave; hora de fecho desta edi&ccedil;&atilde;o n&atilde;o recebemos qualquer resposta &agrave;s nossas solicita&ccedil;&otilde;es.

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