Jornal Médico - Milhares de utentes de Camarate “ganharam” médico de família

Com a inaugura&ccedil;&atilde;o da USF Travessa da Sa&uacute;de, a sexta unidade de sa&uacute;de familiar do Agrupamento de Centros de Sa&uacute;de (ACES) Grande Lisboa VI... Com a inaugura&ccedil;&atilde;o da USF Travessa da Sa&uacute;de, a sexta unidade de sa&uacute;de familiar do Agrupamento de Centros de Sa&uacute;de (ACES) Grande Lisboa VI - Loures, sete mil utentes passaram a ter m&eacute;dico de fam&iacute;lia atribu&iacute;do. Na cerim&oacute;nia de inaugura&ccedil;&atilde;o, presidida por Ana Jorge, a directora executiva do ACES, Ileine Lopes, revelou que no agrupamento existem mais duas candidaturas prestes a arrancar e uma outra, que aguarda aprova&ccedil;&atilde;o. De acordo com a m&eacute;dica de fam&iacute;lia, estas nove USF representam um ganho de 29 MF para o agrupamento Na cerim&oacute;nia de inaugura&ccedil;&atilde;o, a coordenadora da USF, Ana Raposo, classificou o in&iacute;cio do percurso da equipa da Travessa da Sa&uacute;de como "uma nova etapa na presta&ccedil;&atilde;o dos cuidados de sa&uacute;de &agrave; popula&ccedil;&atilde;o, alicer&ccedil;ada no trabalho que foi desenvolvido, desde h&aacute; 30 anos, por todos aqueles profissionais que, com abnega&ccedil;&atilde;o, disponibilidade e profissionalismo, passaram anteriormente por aqui". A constitui&ccedil;&atilde;o da USF "partiu do n&uacute;cleo central da unidade de Camarate, aproveitando a sua longa experi&ecirc;ncia e conhecimento da popula&ccedil;&atilde;o que serve". A equipa foi, posteriormente, refor&ccedil;ada com elementos de todas as &aacute;reas profissionais, vindos de outras unidades de sa&uacute;de. Alguns j&aacute; tinham experi&ecirc;ncia da din&acirc;mica de trabalho das USF, pelo que a sua integra&ccedil;&atilde;o no projecto da Travessa da Sa&uacute;de "tem-se revelado de grande import&acirc;ncia". "N&atilde;o contratamos pessoas para o nosso projecto", salienta Ana Raposo, para logo acrescentar: "constru&iacute;mos, de in&iacute;cio, uma equipa", criando la&ccedil;os de solidariedade e inter-depend&ecirc;ncia, onde se discutem "valores, princ&iacute;pios e objectivos". &Eacute; por isso que "as pessoas s&atilde;o estas e n&atilde;o outras. E porque acreditamos que o que d&aacute; sentido ao nosso trabalho &eacute; o profundo respeito pelo ser humano, &eacute; em fun&ccedil;&atilde;o desse mesmo ser humano e das suas necessidades reais que todo o nosso trabalho vai ser organizado". Equipa &eacute; constitu&iacute;da por 30 profissionais "T&ecirc;m aqui uma grande equipa ao servi&ccedil;o de uma comunidade", sublinhou a ministra da Sa&uacute;de, Ana Jorge, aludindo ao facto da USF integrar 11 m&eacute;dicos, 11 enfermeiros e oito t&eacute;cnicos administrativos, o que faz da nova unidade uma das maiores do pa&iacute;s. "Desta forma, conseguimos responder melhor aos utentes e espero tamb&eacute;m que as pessoas que aqui trabalham se sintam mais compensadas do ponto de vista profissional", acrescentou a governante. O ACES "est&aacute;, de facto, de parab&eacute;ns", porque progressivamente conseguiu, "organizar USF e responder melhor &agrave;s necessidades, do ponto de vista da presta&ccedil;&atilde;o de cuidados de sa&uacute;de, numa zona muito carente", afirmou ainda a ministra. Sete mil ganham M&eacute;dico de Fam&iacute;lia Com a entrada em funcionamento da "Travessa da Sa&uacute;de", 7 mil utentes passar&atilde;o a ter m&eacute;dico de fam&iacute;lia atribu&iacute;do (40% da popula&ccedil;&atilde;o de Camarate), elevando para 19 mil o n&uacute;mero total de utentes inscritos. Uma das zonas mais carentes da periferia da capital Na periferia da capital, Camarate "&eacute; local de resid&ecirc;ncia e de acolhimento de muitos estrangeiros que chegam ao nosso pa&iacute;s em condi&ccedil;&otilde;es prec&aacute;rias", explica Ana Raposo. "Por ser uma periferia pobre de Lisboa, em Camarate ainda &eacute; poss&iacute;vel encontrar casas com rendas aceit&aacute;veis. Por isso, &eacute; ponto de chegada de muita gente. E est&atilde;o sempre a vir mais". Chineses, indianos, paquistaneses, africanos, brasileiros, cidad&atilde;os da Europa de Leste... Esta multiculturalidade - um tema recorrente nas Jornadas do Centro de Sa&uacute;de de Sacav&eacute;m e, agora, do ACES Grande Lisboa VI - Loures - sempre existiu mas, actualmente, a diversidade de culturas &eacute; muito maior, relatou Ana Raposo ao nosso jornal. "Quando comecei aqui a trabalhar, uma enorme percentagem dos nossos utentes eram retornados das ex-col&oacute;nias. Neste momento temos, sobretudo, pessoas vindas de pa&iacute;ses do Leste Europeu, da &Iacute;ndia e do Paquist&atilde;o. Muitos quase n&atilde;o falam portugu&ecirc;s. O que nos vale &eacute; o enfermeiro Prazin, que para al&eacute;m de falar seis ou sete l&iacute;nguas, ainda domina o urdu. &Eacute; nosso desejo aprofundar mais o conhecimento destes utentes. Sobretudo, daqueles cujos padr&otilde;es est&atilde;o mais afastados da cultura ocidental. Para interagir com esta popula&ccedil;&atilde;o, em termos de din&acirc;mica familiar, sa&uacute;de infantil, alimenta&ccedil;&atilde;o, temos que conhecer os seus h&aacute;bitos e tradi&ccedil;&otilde;es. Estamos convictos de que, dessa forma, conseguiremos avan&ccedil;ar no caminho da promo&ccedil;&atilde;o da sa&uacute;de". Pobreza &eacute;, em si, geradora de doen&ccedil;a A USF aguarda ainda a chegada de uma m&eacute;dica de fam&iacute;lia que est&aacute; neste momento a terminar o Internato de Medicina Geral e Familiar. At&eacute; ao pr&oacute;ximo m&ecirc;s de Mar&ccedil;o, data em que integrar&aacute; a unidade de sa&uacute;de familiar, os seus utentes s&atilde;o atendidos pelos restantes colegas. "Acrescentamos duas ou tr&ecirc;s horas aos nossos hor&aacute;rios para podermos dar assist&ecirc;ncia &agrave; lista da nova colega", explica Ana Raposo. Alias, para a respons&aacute;vel da USF, a grande inova&ccedil;&atilde;o que o novo modelo de organiza&ccedil;&atilde;o dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios introduz "&eacute;, por um lado, a flexibiliza&ccedil;&atilde;o dos hor&aacute;rios de forma a podermos aumentar a acessibilidade e, por outro, uma organiza&ccedil;&atilde;o diferente, com consultas pr&eacute; e p&oacute;s-laborais, resposta &agrave; doen&ccedil;a aguda, e intersubstitui&ccedil;&atilde;o. H&aacute; sempre hip&oacute;tese de, ao final da manh&atilde; ou da tarde, darmos cobertura aos utentes cujo m&eacute;dico n&atilde;o se encontra na unidade ou j&aacute; n&atilde;o possui vagas na consulta de doen&ccedil;a aguda". Para al&eacute;m da consulta de adultos, sa&uacute;de infantil, planeamento familiar e sa&uacute;de materna, os profissionais avan&ccedil;aram agora, de uma forma mais formal, com a consulta da diabetes. A USF trabalha segundo o conceito de enfermeiro de fam&iacute;lia, ou seja, "cada m&eacute;dico e enfermeiro formam uma equipa, com um ficheiro a seu cargo. Isto permite &agrave; enfermagem um conhecimento particular dos utentes que, desta forma, tamb&eacute;m ficam com uma acessibilidade aumentada. Se os nossos 11 enfermeiros trabalhassem, em bloco, com 19 mil utentes, n&atilde;o teriam o mesmo conhecimento da popula&ccedil;&atilde;o". Para j&aacute;, as prioridades da equipa s&atilde;o "trabalhar bem, de forma organizada, cumprindo os programas de sa&uacute;de. S&oacute; isso j&aacute; representa muito trabalho porque a press&atilde;o sobre os servi&ccedil;os &eacute; enorme. Os colegas que vieram de fora e que come&ccedil;aram agora a trabalhar com novos ficheiros, dizem que nunca viram tanta gente doente e tanta desgra&ccedil;a". &Eacute; que "a pobreza gera doen&ccedil;a. N&atilde;o s&oacute; social ou afectiva mas f&iacute;sica, real...Problemas sociais graves, existem em todo o lado mas, aqui, a concentra&ccedil;&atilde;o &eacute; mais elevada". "N&atilde;o vamos trabalhar s&oacute; para cumprir indicadores..." Obviamente que, no horizonte de todas as equipas, est&aacute; sempre a possibilidade de passar a Modelo B. A USF Travessa da Sa&uacute;de n&atilde;o &eacute; excep&ccedil;&atilde;o. Pese a vontade, Ana Raposo salvaguarda: "estamos aqui, fundamentalmente, para prestar cuidados de sa&uacute;de adequados &agrave; nossa popula&ccedil;&atilde;o e n&atilde;o para cumprir indicadores", embora estes sejam uma ferramenta essencial para a auto-avalia&ccedil;&atilde;o da equipa. Nesta perspectiva, a m&eacute;dica de fam&iacute;lia afirma que "o facto de estarmos a ser permanentemente avaliados - uma das caracter&iacute;sticas mais importantes da mudan&ccedil;a registada nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios - &eacute; um &oacute;ptimo feedback para percebermos qual &eacute; o melhor caminho a seguir". Com uma popula&ccedil;&atilde;o t&atilde;o diversa, do ponto de vista social e cultural, ser&aacute; dif&iacute;cil atingir algumas metas. No entanto, a equipa &eacute; muito pragm&aacute;tica: "esta &eacute; a popula&ccedil;&atilde;o que temos e para a qual trabalhamos". E porque assim &eacute;, est&atilde;o j&aacute; a ser operacionalizadas v&aacute;rios instrumentos de interven&ccedil;&atilde;o comunit&aacute;ria que passam, por exemplo, pelo aumento dos domic&iacute;lios, nomeadamente aos idosos, rec&eacute;m-nascidos e pu&eacute;rperas. Carta de compromisso: ao encontro de todos os mares... "A Travessa da Sa&uacute;de fica na esquina, ao encontro de todos os mares. Umas vezes calmos, outras vezes revoltos... Na Travessa da Sa&uacute;de desaguam rios de gente, caudais de l&aacute;grimas, mar&eacute;s de risos... A Travessa da Sa&uacute;de quer ser a praia calma onde se celebra a vida; o porto de abrigo nos dias de tempestade... Na Travessa da Sa&uacute;de vive gente disposta a ajudar (...) Fica na esquina de todas as esquinas da vida, onde todos s&atilde;o bem-vindos...". Foi em torno deste pequeno texto, da autoria do m&eacute;dico de fam&iacute;lia Ant&oacute;nio Gravato, que surgiu o programa de ac&ccedil;&atilde;o da USF. E tamb&eacute;m o seu log&oacute;tipo. "Nasci e cresci numa travessa de um bairro t&iacute;pico de Lisboa. Naquele tempo, existiam rela&ccedil;&otilde;es de grande solidariedade nesses espa&ccedil;os. Ora, em Camarate, temos muitas travessas e becos e algumas ruas nem sequer s&atilde;o alcatroadas", explica o m&eacute;dico de fam&iacute;lia. "Aqui, as pessoas t&ecirc;m car&ecirc;ncias sem fim, est&atilde;o muito doentes e s&atilde;o muito pobres. Mas tamb&eacute;m t&ecirc;m direito a serem t&atilde;o bem tratadas como aquelas que vivem nas grandes avenidas. Dar uma Medicina de qualidade a estas pessoas &eacute; o compromisso assumido por todos n&oacute;s. Da&iacute; a travessa, um s&iacute;tio pequenino, acolhedor, mas onde h&aacute; de tudo...". "Nunca tinha visto tanta patologia, nem t&atilde;o pesada, como aqui", desabafa o m&eacute;dico, que trabalhou muitos anos na Extens&atilde;o de Sa&uacute;de de Unhos. Doen&ccedil;as cardiovasculares, hipertens&atilde;o, diabetes descontrolados... Os primeiros dias "foram diab&oacute;licos", afirma. "E isto n&atilde;o se resolve connosco sentados &agrave; secret&aacute;ria, a fazer uma boa consulta. Temos que ser imaginativos, de ir l&aacute; para fora e tentar modificar os estilos de vida da popula&ccedil;&atilde;o. Se assim n&atilde;o for... A batalha estar&aacute; perdida de antem&atilde;o! Grande parte da popula&ccedil;&atilde;o de Camarate "&eacute; muito pobre e doente. &Eacute; preciso que o centro de sa&uacute;de ajude toda esta gente a sobreviver... Penso que vamos conseguir!". De acordo com a directora executiva: USF v&atilde;o trazer 29 m&eacute;dicos para o agrupamento Com a inaugura&ccedil;&atilde;o da USF Travessa da Sa&uacute;de e o arranque, previsto para estes dias, da USF Tejo, de Moscavide, o ACES Grande Lisboa VI - Loures vai passar a contar com oito unidades de sa&uacute;de familiar. Em Fevereiro/Mar&ccedil;o do pr&oacute;ximo ano, &eacute; de prever a entrada em funcionamento da unidade de sa&uacute;de familiar do Prior Velho. Na calha est&aacute; ainda a candidatura da USF Valflor, de Santa Iria de Az&oacute;ia, que teve a primeira reuni&atilde;o com a Equipa Regional de Apoio (ERA) no mesmo dia da inaugura&ccedil;&atilde;o da USF Travessa da Sa&uacute;de. Al&eacute;m das USF, o agrupamento conta com cinco unidades de cuidados de sa&uacute;de personalizados: UCSP Loures (que abrange Lousa, Tojal e Bucelas), Unhos e Apela&ccedil;&atilde;o, Moscavide, Sacav&eacute;m e Bobadela. De acordo com dados de 3 de Dezembro passado, o ACES, com 220.700 utentes, tinha 49.813 a descoberto. Com a abertura das USF Travessa da Sa&uacute;de e Tejo, Ileine Lopes estima que esse n&uacute;mero ser&aacute; reduzido para 24 mil utentes, ou seja, menos de metade. No c&ocirc;mputo geral, a directora executiva refere que as nove USF representam "um ganho de 29 m&eacute;dicos de fam&iacute;lia que, de outra forma, n&atilde;o viriam para o ACES".

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