Jornal Médico - De Cuba… com amor!

Foram protagonistas de p&aacute;ginas de jornais e revistas, de notici&aacute;rios televisivos, mas poucos tentaram ouvi-los. Desde o Ver&atilde;o passado que quatro dezenas de m&eacute;dicos cubanos passaram a exercer Medicina em centros de sa&uacute;de portugueses, a maioria dos quais na regi&atilde;o do Alentejo Foram protagonistas de p&aacute;ginas de jornais e revistas, de notici&aacute;rios televisivos, mas poucos tentaram ouvi-los. Desde o Ver&atilde;o passado que quatro dezenas de m&eacute;dicos cubanos passaram a exercer Medicina em centros de sa&uacute;de portugueses, a maioria dos quais na regi&atilde;o do Alentejo. O M&eacute;dico de Fam&iacute;lia foi ao encontro de dois destes profissionais, a exercer actualmente no centro de sa&uacute;de de Portel. Descobrimos que a popula&ccedil;&atilde;o local e os colegas est&atilde;o satisfeitos e apreciam o esfor&ccedil;o dos cl&iacute;nicos caribenhos. Colocados de parte todos os preconceitos iniciais que pudessem existir (a barreira da l&iacute;ngua ainda se sente, embora hoje com menor intensidade), os m&eacute;dicos cubanos s&atilde;o bastante acarinhados. Grande parte do seu sucesso nasce de uma filosofia de cuidados baseada na proximidade, no humanismo e na promo&ccedil;&atilde;o de estilos de vida saud&aacute;veis. Com uma semana de trabalho de 64 horas, tornaram-se uma presen&ccedil;a incontorn&aacute;vel nos estabelecimentos de sa&uacute;de da regi&atilde;o e at&eacute; d&atilde;o uma m&atilde;ozinha nos concelhos de &Eacute;vora e Viana do Alentejo S&atilde;o onze da manh&atilde;. Na extens&atilde;o de Alqueva, centro de sa&uacute;de (CS) de Portel, Rafael Oliva Avila prossegue a sua rotina de consultas. &Eacute; assim, todos os dias, de segunda a sexta-feira. A maioria dos clientes do dia tem mais de 65 anos e sofre das doen&ccedil;as cr&oacute;nicas mais prevalentes entre a popula&ccedil;&atilde;o local, nomeadamente diabetes mellitus, dislipidemias, osteoporose, obesidade, HTA. "Tem de baixar o sal na comida!", insiste Rafael Avila, por mais do que uma vez ao longo da manh&atilde;. A este conselho junta outros, associados a estilos de vida saud&aacute;veis, como uma correcta distribui&ccedil;&atilde;o de alimentos pelas v&aacute;rias refei&ccedil;&otilde;es di&aacute;rias, ou a pr&aacute;tica de exerc&iacute;cio f&iacute;sico. A an&aacute;lise detalhada dos medicamentos &eacute; outro passo essencial exigindo, quer aten&ccedil;&atilde;o &agrave;s queixas e confid&ecirc;ncias do doente, quer aos dados registados no sistema inform&aacute;tico. Pergunta, sempre, novas da fam&iacute;lia e despede-se com gestos de afecto (um pequeno abra&ccedil;o ou um beijo). Antes de chegar a Portugal (tal como os restantes colegas contratados ao abrigo de um conv&eacute;nio entre os minist&eacute;rios da sa&uacute;de portugu&ecirc;s e cubano), este m&eacute;dico trabalhou na sua terra natal e cinco anos numa localidade fronteiri&ccedil;a entre a Venezuela e a Col&ocirc;mbia. O especialista em Medicina Familiar recorda estes primeiros tempos passados fora de portas: "tratava-se de uma regi&atilde;o com muita pobreza, no estado de T&aacute;chira. Com o nosso trabalho, os par&acirc;metros de sa&uacute;de da popula&ccedil;&atilde;o melhoraram". Foi na Venezuela que surgiu o convite para vir trabalhar em Portugal, sob o benepl&aacute;cito do Estado cubano. "Est&aacute;vamos cientes de que ir&iacute;amos enfrentar exames rigorosos, por parte da Ordem dos M&eacute;dicos portuguesa. Nunca t&iacute;nhamos enfrentado este tipo de exame, t&atilde;o severo, mas est&aacute;vamos tranquilos que possu&iacute;amos compet&ecirc;ncias para ultrapassar o desafio", revela Rafael Avila. Tamb&eacute;m Carlos Valiente, especialista em Medicina Familiar com um mestrado em doen&ccedil;as infecciosas e docente no Instituto Superior de Ci&ecirc;ncias M&eacute;dicas de Havana, recorda o rigor da avalia&ccedil;&atilde;o a que os m&eacute;dicos cubanos foram sujeitos: "primeiro tivemos de realizar provas pr&aacute;ticas e te&oacute;ricas em Cuba, supervisionadas por cinco professores portugueses de diversas especialidades. Foram exames muito exigentes! J&aacute; em Portugal, fomos de novo sujeitos a provas, num processo que considero de elevada dificuldade". Este m&eacute;dico (que pertence &agrave; junta directiva do Grupo Nacional de Medicina Familiar de Cuba, por nomea&ccedil;&atilde;o do Ministro de Sa&uacute;de P&uacute;blica) d&aacute; consultas de Medicina Familiar nas extens&otilde;es de Monte do Trigo (com 1435 doentes em ficheiro) e Vera Cruz (344 utentes). De referir que Carlos Valiente apresenta no curr&iacute;culo passagens por diversos pa&iacute;ses da Am&eacute;rica Latina, nomeadamente o M&eacute;xico, Guatemala, El Salvador, Venezuela e Equador, assim como trabalho em projectos coordenados pela Organiza&ccedil;&atilde;o Pan-Americana da Sa&uacute;de e pela Organiza&ccedil;&atilde;o Mundial da Sa&uacute;de. Referenciar com qualidade &eacute; m&aacute;xima de 1&ordf; linha Em Portugal, para al&eacute;m do trabalho desenvolvido nas duas extens&otilde;es de Portel, Carlos Valiente d&aacute; apoio &agrave; Extens&atilde;o de Torre de Coelheiros (CS de &Eacute;vora) e ao CS de Viana do Alentejo, sempre que a escassez de recursos assim o imp&otilde;e. Na sede do CS de Portel tamb&eacute;m participa na consulta de recurso, bastante solicitada pelos utentes da regi&atilde;o. Os dois m&eacute;dicos cubanos do CS de Portel d&atilde;o, ali&aacute;s, um importante contributo na sede do CS, j&aacute; que dedicam parte do seu hor&aacute;rio, quer &agrave; referida consulta de recurso, quer a actividades como o Planeamento Familiar. Carlos Valiente frisa que a adapta&ccedil;&atilde;o &agrave; vida profissional em Portel foi facilitada, em muito, pela boa vontade das partes envolvidas: "houve desejo, da nossa parte, em trabalhar, ouvir, aprender e melhorar. Do outro lado, obtivemos a ajuda de toda uma equipa; do pessoal m&eacute;dico e n&atilde;o m&eacute;dico. Sem o apoio deste grupo pouco far&iacute;amos. O &ecirc;xito de qualquer miss&atilde;o depende sempre da qualidade do trabalho em equipa e aqui na Regi&atilde;o do Alentejo viemos encontrar uma &eacute;tica irrepreens&iacute;vel, nesse campo". Para este m&eacute;dico, &eacute; evidente que a popula&ccedil;&atilde;o idosa do Alentejo apresenta problemas cardiovasculares e metab&oacute;licos importantes. Este quadro tem reflexos quase di&aacute;rios na consulta de recurso em que participa e onde lida, de forma regular, com casos de s&iacute;ndrome coron&aacute;ria aguda, s&iacute;ndrome metab&oacute;lica descompensada ou acidente vascular cerebral, por exemplo. "Felizmente, todos os doentes que recebi nestas condi&ccedil;&otilde;es chegaram com vida ao hospital", adianta Carlos Valiente. Na consulta de recurso, o m&eacute;dico cubano pode atender at&eacute; 40 pessoas por dia. Por&eacute;m, n&atilde;o dispensa uma avalia&ccedil;&atilde;o criteriosa: "a qualidade n&atilde;o pode ser sacrificada apenas porque temos de reagir com rapidez. Quando enviamos o doente para &Eacute;vora, por exemplo, ele tem de l&aacute; chegar com bons indicadores vitais, para receber o tratamento mais adequado. Se o doente chega ao hospital convenientemente tratado e medicado, pode ent&atilde;o partir para exames complexos, com vista a uma recupera&ccedil;&atilde;o integral. O que acontece aqui em Portel &eacute; a interven&ccedil;&atilde;o no momento exacto, no decurso da janela de ouro. Se n&atilde;o fazemos o que devemos, nos 30 minutos de viagem at&eacute; &Eacute;vora o doente cardiovascular ou c&eacute;rebrovascular perder&aacute; a vida; pouco poder&aacute; ser feito por ele". Colegas e doentes apreciam trabalho cubano A administrativa Maria Ant&oacute;nia Sabino, colocada em Alqueva, admira o modo de trabalhar de Rafael Avila e garante que as dificuldades de comunica&ccedil;&atilde;o com os utentes t&ecirc;m vindo a desaparecer, de modo gradual: "o doutor fala agora de forma mais pausada e a coisa assim vai! Connosco, administrativa e enfermeira, adaptou-se bem e sempre que &eacute; necess&aacute;rio damos uma ajudinha". Jos&eacute; Ramalho, utente da extens&atilde;o de Alqueva, n&atilde;o duvida de que "as pessoas da terra gostam do novo m&eacute;dico. Pessoalmente, acho-o muito am&aacute;vel. Quem n&atilde;o tem forma&ccedil;&atilde;o e &eacute; analfabeto pode ter mais dificuldade em compreend&ecirc;-lo, mas quem tem instru&ccedil;&atilde;o, mesmo que pouca, n&atilde;o se atrapalha". Joaquina Beja, habitante de Alqueva com quem convers&aacute;mos &agrave; sa&iacute;da de uma consulta de rotina, sente-se contente com a estabilidade trazida pelo m&eacute;dico caribenho: "temos tido muitos m&eacute;dicos que entram e saem. Ficam pouco tempo e depois abalam. Assim &eacute; melhor". Em contraposi&ccedil;&atilde;o, a dona Joaquina sente alguma dificuldade de di&aacute;logo com o m&eacute;dico: "existem coisas que ele n&atilde;o percebe &agrave; primeira. Tamb&eacute;m eu, &agrave;s vezes, n&atilde;o o entendo. Ser&aacute; assim enquanto a gente n&atilde;o se acostumar. Mas o senhor doutor vai aprendendo, enquanto fala com a gente!". A hom&oacute;nima Joaquina Rosa partilha a mesa opini&atilde;o: "gosto muito dele, &eacute; um rapaz muito simp&aacute;tico! Ainda n&atilde;o entendemos tudo muito bem, mas a coisa vai melhorando". Sobre os conselhos de sa&uacute;de que o m&eacute;dico cubano transmite, Joaquina Rosa garante que os cumpre &agrave; risca: "com a minha idade e as doen&ccedil;as que tenho, n&atilde;o h&aacute; outro rem&eacute;dio sen&atilde;o ouvi-lo e ter cuidado com aquilo que como". Segundo o m&eacute;dico de 39 anos, a rela&ccedil;&atilde;o com os doentes tem dado passos positivos, &agrave; medida que os meses passam. A l&iacute;ngua parece ser, em definitivo, a &uacute;ltima fronteira a transpor: "ainda existem algumas palavras cujo significado n&atilde;o compreendemos, mas quando tal acontece, pedimos logo que nos expliquem de outra forma. Os doentes acabam por se fazer entender por outros meios e &eacute; desta forma que aprendemos. A linguagem n&atilde;o &eacute; uma barreira absoluta". Em Monte do Trigo, a administrativa Ilda Rico tem sido uma auxiliar valiosa para Carlos Valiente. Desde os tempos revolucion&aacute;rios de 1974 que est&aacute; ao servi&ccedil;o na pequena extens&atilde;o de sa&uacute;de, situada hoje dentro da Junta de Freguesia de Monte do Trigo. Como est&aacute; prestes a completar 70 anos de vida, dever&aacute; em breve aposentar-se, mas o m&eacute;dico cubano tudo tem feito para que continue por perto, agradado que est&aacute; com o seu apoio. "N&atilde;o sei se os servi&ccedil;os me autorizam a ficar mais tempo, mas de facto gosto muito de trabalhar com o Dr. Carlos e com as enfermeiras", confessa Ilda Rico. A cumplicidade desta administrativa ultrapassa at&eacute; as balizas habituais do seu trabalho: "as pessoas gostam muito do senhor doutor. Quando n&atilde;o entendem alguma coisa que ele diz, chamam-me e eu explico. Funciono tamb&eacute;m como tradutora!", diz, orgulhosa. A enfermeira Maria Jos&eacute; Lopes trabalha, quer com Rafael Avila (na extens&atilde;o de Alqueva), quer com Carlos Valiente (na consulta de recurso em Portel). Segundo esta profissional de sa&uacute;de, a adapta&ccedil;&atilde;o tem sido excelente e nem sequer se levantaram problemas de maior na linguagem: "conseguimos perceb&ecirc;-los lindamente. Quer n&oacute;s, quer os doentes j&aacute; est&aacute;vamos habituados a contactar com m&eacute;dicos espanh&oacute;is, pelo que n&atilde;o not&aacute;mos grande diferen&ccedil;a". Bem-vindos ao Alentejo! A hospitalidade alentejana, bem conhecida dos portugueses, revelou-se desde o primeiro momento evidente para os forasteiros cubanos: "a din&acirc;mica de trabalho com os colegas e o relacionamento com os doentes foram sempre bons. Qualquer d&uacute;vida que surja, enfermeiros, administrativos e colegas m&eacute;dicos est&atilde;o preparados para nos ajudar. Ali&aacute;s, o motorista do CS - a primeira pessoa com quem estabelecemos contacto -, dedicou-nos um apoio incondicional e tornou-se um bom amigo", aponta Rafael Avila. O colega Carlos Valiente secunda esta opini&atilde;o: "Hoje &eacute; como se fosse um irm&atilde;o, para mim". Segundo a enfermeira Maria Jos&eacute; Lopes, o &ecirc;xito da integra&ccedil;&atilde;o deve-se muito ao facto de os m&eacute;dicos vindos de Cuba viverem entre a popula&ccedil;&atilde;o, o que acaba por recuperar o esp&iacute;rito do antigo m&eacute;dico de aldeia ou vila: "a circunst&acirc;ncia de viverem em Portel, contribuiu para terem sido bem recebidos. Eu tamb&eacute;m vivo na localidade e sinto que eles est&atilde;o muito bem integrados no meio social". Rui Cavaco, respons&aacute;vel administrativo no CS de Portel, vislumbra at&eacute; "uma cordialidade fora do normal", entre os m&eacute;dicos cubanos e muitos dos colegas do CS. "Est&atilde;o sempre bem-dispostos e colaboradores. &Eacute; exactamente o g&eacute;nero de m&eacute;dicos que gostamos de ter num universo como o nosso", diz Rui Cavaco. Por h&aacute;bito, &eacute; Rui Cavaco quem transporta Carlos Valiente at&eacute; Torre de Coelheiros, assim como ambos os m&eacute;dicos, quando necessitam de prestar apoio em Viana do Alentejo. "Em todos estes estabelecimentos de sa&uacute;de, o trabalho destes m&eacute;dicos &eacute; apreciado", afian&ccedil;a o respons&aacute;vel administrativo. Rui Cavaco recorda que mal chegaram no final do Ver&atilde;o passado e se instalaram numa moradia tempor&aacute;ria, os m&eacute;dicos cubanos passaram a dar-se com a vizinhan&ccedil;a e a socializar: "come&ccedil;ou a ser habitual v&ecirc;-los no jardim da cerca, &agrave; noite, a conviver com as pessoas". Contingente internacional j&aacute; est&aacute; em maioria O CS de Portel (engloba sete extens&otilde;es de sa&uacute;de). Conta com dois m&eacute;dicos portugueses no quadro. A estes junta-se uma m&eacute;dica espanhola contratada a termo certo e os dois cl&iacute;nicos cubanos. Ou seja, os elementos nacionais j&aacute; se encontram em minoria. Henriqueta Quitalo, coordenadora do CS de Portel, confessa que, no in&iacute;cio, sentiu dificuldades em encontrar tarefas para as 64 horas semanais que os colegas cubanos teriam de fazer: "tive dificuldade em criar hor&aacute;rios para estes colegas, porque n&atilde;o existiam horas que chegassem dentro do nosso per&iacute;odo de atendimento das 8h00 &agrave;s 20h00, durante a semana, e das 14h00 &agrave;s 20h00, aos fins-de-semana. Por&eacute;m, de vez em quando faltam recursos humanos em locais como Viana do Alentejo. Assim, os colegas acabam por ser dispensados para l&aacute; realizarem tarefas". Esta respons&aacute;vel confirma que os m&eacute;dicos foram bem aceites, pela popula&ccedil;&atilde;o e pela for&ccedil;a de trabalho do CS: "pelo que me &eacute; dado saber, tamb&eacute;m eles est&atilde;o satisfeitos e gostam de estar entre n&oacute;s". De acordo com Henriqueta Quitalo, ao contr&aacute;rio dos MF espanh&oacute;is que passaram pela regi&atilde;o - todos eles completaram o Internato em solo portugu&ecirc;s - os colegas cubanos ainda n&atilde;o conseguem dominar a l&iacute;ngua portuguesa a 100%, especialmente na dimens&atilde;o escrita. "Apesar de n&atilde;o dominarem ainda o portugu&ecirc;s, esfor&ccedil;am-se muito", atesta a coordenadora. De acordo com Henriqueta Quitalo, para al&eacute;m da forma&ccedil;&atilde;o que o Minist&eacute;rio da Sa&uacute;de forneceu a estes m&eacute;dicos em &aacute;reas como os sistemas de informa&ccedil;&atilde;o (administrada durante uma semana em Beja, com enfoque nas aplica&ccedil;&otilde;es SAM e ALERT), teria sido positivo dar-lhes ferramentas iniciais ao n&iacute;vel do portugu&ecirc;s. Uma vez que o concelho &eacute; extenso e o pessoal cl&iacute;nico escasso, Henriqueta Quitalo raramente se desloca &agrave;s extens&otilde;es onde os m&eacute;dicos cubanos trabalham. Assim, estes est&atilde;o dotados de grande autonomia e merecem toda a confian&ccedil;a para agirem em conformidade com as suas avalia&ccedil;&otilde;es. "T&ecirc;m sido impec&aacute;veis em todas as mat&eacute;rias. At&eacute; no cumprimento de hor&aacute;rio", sublinha a coordenadora de Portel. A mesma respons&aacute;vel assegura que os dois m&eacute;dicos cubanos actuam, na pr&aacute;tica, como qualquer MF portugu&ecirc;s: "t&ecirc;m as suas pr&oacute;prias listas e desempenham fun&ccedil;&otilde;es como MF. Era bom que o col&eacute;gio da especialidade da OM os certificasse enquanto tal". Portugal n&atilde;o &eacute; um bicho-de-sete-cabe&ccedil;as Apesar de esta ser a primeira experi&ecirc;ncia dos dois cl&iacute;nicos em solo europeu, nenhum dos dois considera que a realidade portuguesa levanta problemas de maior. "As culturas s&atilde;o, obviamente diferentes, mas o respeito e o reconhecimento pelo m&eacute;dico est&atilde;o sempre presentes. Devo dizer que no nosso pa&iacute;s, a popula&ccedil;&atilde;o quer-nos muito, at&eacute; porque a nossa Medicina &eacute; humana e pr&aacute;tica. Os medicamentos ajudam na recupera&ccedil;&atilde;o do doente, mas para resolver na &iacute;ntegra os problemas temos de alcan&ccedil;ar a intimidade da pessoa, perceber como vive, como leva os seus afazeres em casa. Estes s&atilde;o os valores que transportamos para todos os pa&iacute;ses que nos chamam", explica Rafael Avila. De acordo com este profissional de sa&uacute;de, a mudan&ccedil;a de estilos de vida est&aacute; entre as prioridades m&aacute;ximas da sua interven&ccedil;&atilde;o: "s&atilde;o costumes dif&iacute;ceis de mudar os que existem no Alentejo, onde a alimenta&ccedil;&atilde;o cont&eacute;m muito sal e gordura. Apesar da insist&ecirc;ncia nos alertas para as poss&iacute;veis complica&ccedil;&otilde;es que surgem com os maus h&aacute;bitos, esta &eacute; uma tend&ecirc;ncia dif&iacute;cil de transformar, a curto prazo. Ainda assim, em pouco tempo percebo que as pessoas aprendem a controlar os factores de risco e apanham as indica&ccedil;&otilde;es que lhes damos". Esta postura, de cautela, &eacute; vincada por Carlos Valiente: "para mudar os estilos de vida na comunidade, temos de evoluir aos poucos. Os estilos de vida n&atilde;o se mudam de um dia para o outro, mas tentamos, nas consultas, falar com os doentes e explicar-lhes como podem evitar o agravamento do seu estado". Em Alqueva, Rafael Avila encontrou uma popula&ccedil;&atilde;o "que sentia a car&ecirc;ncia de cuidados. O n&uacute;mero de consultas era reduzido, pelo que temos vindo a ampliar o servi&ccedil;o e a alargar o hor&aacute;rio, sempre com a flexibilidade para atender tr&ecirc;s ou quatro casos urgentes". J&aacute; Carlos Valiente, prefere n&atilde;o fazer compara&ccedil;&otilde;es entre a realidade que encontrou em Portugal e a que viveu em outros pa&iacute;ses: "cada na&ccedil;&atilde;o tem as suas caracter&iacute;sticas particulares, crit&eacute;rios e protocolos de trabalho. Cabe-me a tarefa de me adaptar &agrave; forma de actuar do pa&iacute;s onde estou. Portugal &eacute; um pa&iacute;s do 1&ordm; mundo, com bom desenvolvimento nas ci&ecirc;ncias m&eacute;dicas, na log&iacute;stica e tecnologia, com &oacute;ptima capacita&ccedil;&atilde;o do pessoal m&eacute;dico, pelo que n&atilde;o pode ser comparado com na&ccedil;&otilde;es em vias de desenvolvimento". No plano s&oacute;cio-cultural, Carlos Valiente considera serem diminutas "as diferen&ccedil;as entre a cultura cubana e a portuguesa. Pessoalmente gosto de Portel e do Alentejo e sinto que as pessoas s&atilde;o simples, humanas". Em tr&acirc;nsito? O acordo estabelecido entre os Estados portugu&ecirc;s e cubano prev&ecirc; um contrato de tr&ecirc;s anos para os m&eacute;dicos cubanos a trabalhar em Portugal. At&eacute; ao momento, a nossa redac&ccedil;&atilde;o n&atilde;o conseguiu aceder ao conv&eacute;nio estabelecido entre as partes, pelo que n&atilde;o est&aacute; em condi&ccedil;&otilde;es de revelar, em pormenor, as condi&ccedil;&otilde;es definidas para o trabalho destes cl&iacute;nicos (j&aacute; foi, entretanto, solicitada formalmente c&oacute;pia do documento ao gabinete da ministra da Sa&uacute;de). &Agrave; nossa reportagem, ambos os profissionais de sa&uacute;de referem que est&atilde;o numa miss&atilde;o tempor&aacute;ria e que pretendem regressar ao seu pa&iacute;s de origem. "O meu futuro passa pelo meu pa&iacute;s. Estou aqui a cumprir um contrato de trabalho e quando terminar o v&iacute;nculo, regresso. N&atilde;o tenho qualquer interesse ou expectativa em ficar por c&aacute;", avan&ccedil;a Rafael Avila. Relativamente a quest&otilde;es salariais e a cargas hor&aacute;rias, Rafael Avila preferiu n&atilde;o se alongar em coment&aacute;rios e n&atilde;o mencionou os valores que recebe pela actividade que desenvolve em Portugal, ou quais as contrapartidas entregues ao Estado cubano pelo trabalho que ele e os colegas desenvolvem em Portugal. Por&eacute;m, garantiu que aquilo que recebe "&eacute; suficiente para todas as necessidades, para viver com dignidade" e que as horas cumpridas por si e pelos colegas s&atilde;o aquelas com que se sentem bem: "estamos habituados a trabalhar e n&atilde;o nos queixamos. Sabemos que se tem falado sobre este assunto, que chegou inclusive aos portugueses atrav&eacute;s da televis&atilde;o e que &eacute; um tema sens&iacute;vel, mas para n&oacute;s est&aacute; tudo bem". Segundo Carlos Valiente, o contexto actual em que os m&eacute;dicos trabalham &eacute; normal: "cumprimos um conv&eacute;nio entre o governo de Portugal e o governo de Cuba. Aqui, recebemos o suficiente e o resto do dinheiro vai para Cuba". Novas refer&ecirc;ncias culturais pouco ou nada assustam Como acontece com todos os m&eacute;dicos estrangeiros que v&ecirc;m trabalhar para Portugal, os cl&iacute;nicos com origem em Cuba entraram num caldo de cultura desconhecido. Para mais, ca&iacute;ram de p&aacute;ra-quedas num meio de pequenas dimens&otilde;es, ruralizado. "&Eacute; verdade que os latino-americanos s&atilde;o bem diferentes, mais alegres. A arquitectura no Alentejo tamb&eacute;m se distingue daquela a que estamos habituados. As casas parecem-nos todas muito iguais. Dito isto, do ponto de vista social sentimo-nos muito bem, sossegados e num ambiente acolhedor", reconhece Rafael Avila. Em paralelo, os m&eacute;dicos cubanos que trabalham em Portugal mant&ecirc;m contacto entre si, independentemente do local em que exercem. Contactam por telefone, encontram-se muitas vezes aos fins-de-semana, procuram almo&ccedil;ar juntos de quando em vez. "O relacionamento &eacute; importante e s&oacute; fica bem que assim seja", diz-nos o m&eacute;dico da Extens&atilde;o de Alqueva. Para Carlos Valiente, &eacute; vital que os m&eacute;dicos cubanos n&atilde;o percam o rasto uns dos outros: "a comunica&ccedil;&atilde;o &eacute; poder. Se n&atilde;o tivermos a possibilidade de comunicar, ficaremos isolados". Autarquia e Miseric&oacute;rdia fornecem casa e alimenta&ccedil;&atilde;o Quando se instalaram em Portel, os m&eacute;dicos Carlos Valiente e Rafael Avila passaram por uma casa tempor&aacute;ria, &agrave;s portas da povoa&ccedil;&atilde;o. Agora, vivem numa casa cedida pela C&acirc;mara Municipal de Portel, equipada para os acolher. A autarquia n&atilde;o &eacute;, contudo, a &uacute;nica entidade na regi&atilde;o a apoi&aacute;-los. A Santa Casa da Miseric&oacute;rdia de Portel encarrega-se de fornecer almo&ccedil;o e jantar aos dois m&eacute;dicos, todos os dias da semana, assim como limpeza da habita&ccedil;&atilde;o e tratamento da roupa. "Fazemo-lo a t&iacute;tulo gratuito e os dois m&eacute;dicos podem sempre contar com a nossa porta aberta, para tudo aquilo que venham a necessitar", garantiu-nos a respons&aacute;vel do servi&ccedil;o de apoio domicili&aacute;rio da Miseric&oacute;rdia de Portel. Ocasionalmente, os dois m&eacute;dicos tamb&eacute;m d&atilde;o consultas na Miseric&oacute;rdia, mas os seus afazeres tem-nos impedido de manter um contributo regular nesta vertente.

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