Jornal Médico - ARSLVT: Falhas de material nas USF são recorrentes

Profissionais protestam contra as falhas recorrentes de material de escrit&oacute;rio e cl&iacute;nico. Papel, toner, pensos, adesivos, ligaduras, compressas....nalguns casos, as falhas s&atilde;o cr&oacute;nicas Profissionais de unidades de sa&uacute;de familiar da ARS de Lisboa e Vale do Tejo protestam com as falhas recorrentes de material de escrit&oacute;rio e cl&iacute;nico. Papel, toner, pensos, adesivos, ligaduras, compressas....nalguns casos, as falhas s&atilde;o cr&oacute;nicas. Em causa est&atilde;o problemas de log&iacute;stica e de organiza&ccedil;&atilde;o, a n&iacute;vel dos agrupamentos e da ARS. Lu&iacute;s Afonso, vice-presidente do conselho directivo da ARSLVT, admite parte da responsabilidade, mas n&atilde;o toda. "Alguns directores n&atilde;o t&ecirc;m conseguido ultrapassar situa&ccedil;&otilde;es que, pontualmente, poderiam ser resolvidas localmente", afirma, embora reconhe&ccedil;a que, na grande maioria dos casos, as Unidades de Apoio &agrave; Gest&atilde;o s&oacute; est&atilde;o "meio constru&iacute;das" e isso constitui um problema significativo num contexto de grande complexidade administrativa A situa&ccedil;&atilde;o de falta de material cl&iacute;nico e de escrit&oacute;rio come&ccedil;a a ser cr&oacute;nica nalgumas unidades de sa&uacute;de familiar. Ao nosso jornal chegaram sobretudo os ecos de problemas sentidos em unidades da Administra&ccedil;&atilde;o Regional de Sa&uacute;de de Lisboa e Vale do Tejo, mas o panorama poder&aacute; estar a repetir-se um pouco por todo o pa&iacute;s, com maior ou menor intensidade. Na USF Marginal, do ACES de Cascais, o problema &eacute; recorrente. As falhas de aprovisionamento s&atilde;o sistem&aacute;ticas. De acordo com a coordenadora, Ana Ferr&atilde;o, dizem respeito tanto ao papel para impressoras como ao papel para marquesas, material de pensos, esp&eacute;culos, luvas e produtos farmac&ecirc;uticos. Os pedidos s&atilde;o satisfeitos em cerca de 30 ou 40% do total, o que significa que as situa&ccedil;&otilde;es de "crise" se sucedem. Nessa altura, &eacute; enviado um pedido de urg&ecirc;ncia &agrave; direc&ccedil;&atilde;o executiva do ACES. Regra geral, "recebemos um pouco de material para resolver o problema naquele momento" mas "deixou de existir uma programa&ccedil;&atilde;o efectiva" e os profissionais de sa&uacute;de, sobretudo de enfermagem, abrem por vezes as salas de tratamento sem saberem se ter&atilde;o material suficiente para efectuarem todos os tratamentos programados para o dia. Na opini&atilde;o de Ana Ferr&atilde;o, esta situa&ccedil;&atilde;o estar&aacute; relacionada com a extin&ccedil;&atilde;o das sub-regi&otilde;es e a cria&ccedil;&atilde;o dos ACES, falta de profissionais qualificados nas Unidades de Apoio &agrave; Gest&atilde;o (UAG) e falhas de planeamento da pr&oacute;pria ARS. "O processo de implementa&ccedil;&atilde;o dos agrupamentos de centros de sa&uacute;de poder&aacute; n&atilde;o estar a correr da melhor maneira. &Eacute; um processo novo e ter&aacute; que existir vontade pol&iacute;tica para alterar e resolver o que n&atilde;o estiver bem", defende a respons&aacute;vel da equipa da USF Marginal, que neste momento se prepara para elaborar um documento onde d&aacute; conta de todas as falhas de material ocorridas na unidade de sa&uacute;de. Com o credo na boca... Na USF Villa Longa, as falhas come&ccedil;aram a fazer-se sentir nos &uacute;ltimos meses. Normalmente, o ACES responde aos pedidos de material mas "nunca nas quantidades solicitadas", de acordo com a coordenadora, Manuela Victor. Situa&ccedil;&otilde;es de ruptura "s&oacute; aconteceram uma vez", obrigando a desmarcar v&aacute;rias consultas de planeamento familiar, mas as falhas na reposi&ccedil;&atilde;o do material obrigam a sucessivos pedidos urgentes. Na USF Alphamouro, o coordenador, Jos&eacute; Carlos Patr&iacute;cio, refere igualmente "problemas de log&iacute;stica e de organiza&ccedil;&atilde;o" que se traduzem em dificuldades de v&aacute;ria ordem: desde o toner para as impressoras, aos adesivos, compressas, ligaduras...Os pr&oacute;prios utentes, por vezes, "apercebem-se que os pensos n&atilde;o s&atilde;o efectuados com o material habitual e que isso faz com que tenham que recorrer mais vezes &agrave; unidade de sa&uacute;de". Ant&oacute;nio Fraz&atilde;o Ferreira, da USF Mactam&atilde;, afirma que "a falta de material j&aacute; faz parte da tradi&ccedil;&atilde;o. Sempre vivemos assim; n&atilde;o conhecemos outra realidade sen&atilde;o essa". O problema, na sua perspectiva, tem a ver com a falta de planeamento e falhas ao n&iacute;vel da gest&atilde;o. "&Eacute; necess&aacute;rio analisar, de forma rigorosa, o que cada unidade produz e o que gasta em todos os tipos de materiais. Caso contr&aacute;rio, n&atilde;o h&aacute; volta a dar...". De acordo com o m&eacute;dico da fam&iacute;lia, "o ano passado e os primeiros meses deste ano foram catastr&oacute;ficos". Chegou um momento em que, se n&atilde;o fosse a oferta de algumas resmas de papel pelos utentes, "n&atilde;o haveria como imprimir as receitas". Em compara&ccedil;&atilde;o, "nos &uacute;ltimos dois a tr&ecirc;s meses, a situa&ccedil;&atilde;o melhorou francamente relativamente ao primeiro semestre de 2009". Na USF S&atilde;o Domingos de Gusm&atilde;o, tamb&eacute;m "andamos sempre com o credo na boca", diz Ana Figueiredo, para quem "o pior de tudo" &eacute; o material de tratamentos: pensos, adesivos, esp&eacute;culos... Directora executiva enche o carro em Lisboa antes de tomar a direc&ccedil;&atilde;o das Caldas... Na USF Amato Lusitano, a coordenadora, F&aacute;tima Leal, afirma que at&eacute; agora, tem conseguido gerir a situa&ccedil;&atilde;o. Prevendo alguma situa&ccedil;&atilde;o de instabilidade com a extin&ccedil;&atilde;o das Sub-regi&otilde;es e cria&ccedil;&atilde;o dos ACES, a equipa conseguiu abastecer-se de material de enfermagem e de escrit&oacute;rio que, at&eacute; agora, tem bastado para suprir as necessidades. Mas est&aacute; a acabar, afirma. "Nunca aconteceram situa&ccedil;&otilde;es de ruptura mas temos sempre esse receio". Por isso, sempre que surge informa&ccedil;&atilde;o sobre a chegada de material ao armaz&eacute;m do ACES, p&otilde;e-se a caminho. &Eacute; claro que deveria ser o agrupamento a distribu&iacute;-lo mas, &agrave; falta de melhor, por vezes, s&atilde;o os pr&oacute;prios profissionais a faz&ecirc;-lo, utilizando as suas viaturas particulares. Na USF Tornada, do ACES Oeste Norte, o caso mais grave ocorreu h&aacute; uns meses atr&aacute;s, quando se acabou o toner das novas impressoras instaladas na unidade de sa&uacute;de familiar. O problema foi sinalizado &agrave; direc&ccedil;&atilde;o do ACES, que acabou por resolver a situa&ccedil;&atilde;o. Ali&aacute;s, de acordo com a respons&aacute;vel da equipa, Ana Pisco, a directora executiva do agrupamento, Teresa Luciano, conseguiu sempre evitar situa&ccedil;&otilde;es de ruptura de stock. Em meses "dif&iacute;ceis" como Junho, Julho e Agosto, devido &agrave;s f&eacute;rias, chegou mesmo a "carregar" o carro de material na ARS de Lisboa e Vale do Tejo antes de rumar at&eacute; &agrave; sede do agrupamento, nas Caldas da Rainha..."S&atilde;o 200 mil utentes", justifica e, esses, "n&atilde;o podem esperar...". ACES Oeste Norte sem quadros superiores na UAG Progressivamente, "a situa&ccedil;&atilde;o tem vindo a melhorar". &Eacute; claro que as coisas continuam a ser dif&iacute;ceis. "Estamos num momento de reforma e de mudan&ccedil;a nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios", justifica Teresa Luciano. Isso obriga, na sua opini&atilde;o, a uma atitude &aacute;gil, construtiva, e a um esp&iacute;rito de entreajuda entre todas as unidades do agrupamento, para que "emprestem" umas &agrave;s outras o que "sobra" nuns locais e falta noutros. Em 2009, a direc&ccedil;&atilde;o do agrupamento recorreu, por vezes, ao sistema de compras urgentes por ajuste directo, com o objectivo de evitar situa&ccedil;&otilde;es de ruptura de stock. E j&aacute; seguiram para a ARS as estimativas para 2010. "Se a ARS souber o que precisa, anualmente, para todos os ACES, poder&aacute; planear as compras de uma maneira diferente", explica aquela respons&aacute;vel, sublinhando o "esfor&ccedil;o enorme" do vice-presidente do conselho executivo da ARSLVT, Lu&iacute;s Afonso, para ajudar os ACES na mudan&ccedil;a e na adapta&ccedil;&atilde;o a um novo sistema. Um processo ainda mais dif&iacute;cil, quando "estamos a trabalhar com um quadro de pessoal inferior &agrave;s necessidades". Exemplo disso &eacute; a inexist&ecirc;ncia de t&eacute;cnicos superiores na Unidade de Apoio &agrave; Gest&atilde;o (UAG) do agrupamento. ACES Parede/Cascais tem um t&eacute;cnico superior Nesta fase de reestrutura&ccedil;&atilde;o, as unidades de apoio &agrave; gest&atilde;o dos ACES assumem um papel relevante. Mas, em muitos deles, a falta de pessoal qualificado &eacute; not&oacute;ria. Tamb&eacute;m o ACES Parede/Cascais tem dificuldades a esse n&iacute;vel. Antigamente, "tudo estava centralizado nas sub-regi&otilde;es e nas ARS e, de um dia para o outro, registou-se uma mudan&ccedil;a profunda nos servi&ccedil;os, que n&atilde;o est&aacute; a ser processada com a rapidez necess&aacute;ria", aponta Helena Batista da Costa, a directora executiva do agrupamento. A UAG do ACES Parede/Cascais, conta apenas com um t&eacute;cnico superior, que coordena a unidade. E os administrativos, oriundos de ambos os centros de sa&uacute;de, nem s&atilde;o suficientes, nem possuem todo o conhecimento necess&aacute;rio para responder &agrave; complexidade da nova realidade, afirma aquela respons&aacute;vel. "Estamos a atravessar um per&iacute;odo de reforma e de reestrutura&ccedil;&atilde;o - talvez a maior dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios - e o que acontece &eacute; que a descentraliza&ccedil;&atilde;o das tarefas para os ACES n&atilde;o tem sido acompanhada dos necess&aacute;rios recursos humanos, quer em quantidade, quer em qualidade. Neste momento, n&atilde;o temos pessoal t&eacute;cnico com conhecimentos para desenvolverem determinados procedimentos complexos, mas apenas pessoal administrativo, que apenas sabe fazer o b&aacute;sico, o que constitui um problema acrescido". Relativamente &agrave; quest&atilde;o do aprovisionamento e das falhas de material, Helena Costa afirma que "os valores anuais ultrapassam as compet&ecirc;ncias directas dos directores executivos no que se refere a aquisi&ccedil;&otilde;es directas". 2009 tem sido um ano muito complicado, admite, "at&eacute; por quest&otilde;es de reestrutura&ccedil;&atilde;o da pr&oacute;pria ARS". Problemas inerentes ao "ano zero" O ACES da Lez&iacute;ria II, que tem imensos problemas no que se refere ao quadro m&eacute;dico, vive uma situa&ccedil;&atilde;o mais confort&aacute;vel ao n&iacute;vel da gest&atilde;o. De acordo com a sua respons&aacute;vel, Lu&iacute;sa Portugal, o sector administrativo conta com dez t&eacute;cnicos superiores num total de 23 profissionais. Como o edif&iacute;cio do Centro de Sa&uacute;de de Almeirim, onde est&aacute; localizada a sede do agrupamento, &eacute; relativamente pequeno, a direc&ccedil;&atilde;o equaciona a possibilidade de realizar obras de amplia&ccedil;&atilde;o no CS ou, em alternativa, a transfer&ecirc;ncia da UAG para um novo espa&ccedil;o, onde tamb&eacute;m ficaria localizado o armaz&eacute;m do ACES. Com a aproxima&ccedil;&atilde;o dos meses de Ver&atilde;o e a organiza&ccedil;&atilde;o dos servi&ccedil;os de resposta &agrave; gripe, "come&ccedil;aram a desenhar-se alguns problemas relativamente ao abastecimento de material cl&iacute;nico e hoteleiro". Em consequ&ecirc;ncia, "inform&aacute;mos a ARS de que n&atilde;o t&iacute;nhamos condi&ccedil;&otilde;es para esperar e compr&aacute;mos n&oacute;s o material de que necessit&aacute;vamos". Lu&iacute;sa Portugal explica que o ACES da Lez&iacute;ria II tem uma dimens&atilde;o "equivalente a seis centros de sa&uacute;de, com unidades muito dispersas, servi&ccedil;os de atendimento permanente 24 horas, atendimentos complementares de 20 horas...". N&atilde;o era poss&iacute;vel ficar &agrave; espera da resposta da ARS. "Antes de acontecer algum problema, compr&aacute;mos directamente, utilizando as compet&ecirc;ncias que possu&iacute;mos nesse dom&iacute;nio". O facto de n&atilde;o possuir um armaz&eacute;m central representou um contratempo em termos log&iacute;sticos mas "conseguimos chegar a todas as unidades de sa&uacute;de". Na opini&atilde;o daquela respons&aacute;vel, os ACES disp&otilde;em de um "plafond razo&aacute;vel", suficiente para colmatar problemas pontuais de aprovisionamento. E recorda que depois da extin&ccedil;&atilde;o das sub-regi&otilde;es, "al&eacute;m dos fornecimentos regulares &agrave; zona de Lisboa, a ARS passou a ter que fazer o mesmo em rela&ccedil;&atilde;o a Santar&eacute;m e Set&uacute;bal. Penso que isso ter&aacute; causado alguns problemas, sobretudo em meses complicados, como Julho e Agosto". Segundo Lu&iacute;sa Portugal, 2009 &eacute; o ano zero. "Ainda estamos todos a aprender mas tivemos v&aacute;rias reuni&otilde;es com o conselho directivo da ARS e penso que acabaremos por conseguir resolver os problemas". ARS acerta procedimentos com os directores executivos De quem &eacute; a "culpa" disto tudo, afinal? Os profissionais de sa&uacute;de apontam o dedo &agrave; ARS. E o vice-presidente, Lu&iacute;s Afonso, sabe disso, naturalmente. Ali&aacute;s, "tenho a perfeita no&ccedil;&atilde;o de que n&atilde;o est&aacute; tudo a correr bem", mas "o caminho faz-se caminhando" e as reuni&otilde;es com os directores executivos dos agrupamentos visam, justamente, "fazer o ponto da situa&ccedil;&atilde;o e acertar procedimentos". Com esse objectivo foram definidos v&aacute;rios tipos de ac&ccedil;&otilde;es. Em primeiro lugar, importa "melhorar os canais de distribui&ccedil;&atilde;o dos diferentes materiais, sejam eles de natureza farmac&ecirc;utica, administrativa ou de consumo cl&iacute;nico". A aquisi&ccedil;&atilde;o de viaturas "para facilitar a distribui&ccedil;&atilde;o desses equipamentos dentro dos agrupamentos", &eacute; o segundo passo. A ARS est&aacute; ainda a elaborar manuais com informa&ccedil;&atilde;o "para ajudar os directores executivos dos ACES a exercerem as compet&ecirc;ncias que lhes foram delegadas". Outro objectivo &eacute; dotar os agrupamentos de "ferramentas de gest&atilde;o inform&aacute;ticas para agilizar todos esses processos". Lu&iacute;s Afonso reafirma: "estamos todos a aprender"... Mas n&atilde;o deixa de apontar o dedo a "alguns directores que n&atilde;o t&ecirc;m conseguido ultrapassar situa&ccedil;&otilde;es que, pontualmente, poderiam ser resolvidas localmente", embora reconhe&ccedil;a que, em muitos casos, as UAG est&atilde;o s&oacute; "semi-constru&iacute;das" e isso constitui um constrangimento importante. Por outro lado, "tamb&eacute;m os servi&ccedil;os centrais ainda n&atilde;o se conseguiram adaptar &agrave; nova realidade". Tudo isso cria disfun&ccedil;&otilde;es "que estamos a tentar corrigir". Lu&iacute;s Afonso compreende os protestos dos profissionais de sa&uacute;de, nomeadamente das USF, mas assinala: "t&ecirc;m que perceber que estamos num momento de reformula&ccedil;&atilde;o dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios" e "Roma e Pavia n&atilde;o se fizeram num dia...".

Terceiro espaço

Mais lidas