Jornal Médico - As propostas do PS

Prosseguir com a reforma dos CSP!... Generalizar o modelo USF!... Avaliar as vantagens das ULS! Em v&eacute;speras de elei&ccedil;&otilde;es, quisemos conhecer melhor as propostas dos cinco principais partidos pol&iacute;ticos que v&atilde;o a votos, para o sector da Sa&uacute;de. Muito particularmente, no que toca aos Cuidados de Sa&uacute;de Prim&aacute;rios. Para que n&atilde;o nascessem d&uacute;vidas quanto &agrave; interpreta&ccedil;&atilde;o jornal&iacute;stica dos dados recolhidos em entrevista, decidimos solicitar as respostas por escrito, a um question&aacute;rio constru&iacute;do com o apoio de um grupo alargado de m&eacute;dicos de fam&iacute;lia. Pelo Partido Socialista (PS), respondeu Manuel Pizarro, M&eacute;dico, Secret&aacute;rio de Estado da Sa&uacute;de. Como perspectiva o futuro do Servi&ccedil;o Nacional de Sa&uacute;de portugu&ecirc;s? Partido Socialista (PS) - O servi&ccedil;o p&uacute;blico deve constituir o eixo essencial atrav&eacute;s do qual o Estado garante a promo&ccedil;&atilde;o da sa&uacute;de e a protec&ccedil;&atilde;o na doen&ccedil;a aos portugueses. Porque acreditamos que essa &eacute; a melhor forma de assegurar equidade na presta&ccedil;&atilde;o de cuidados e de valorizar a dignidade da vida humana, permitindo a democratiza&ccedil;&atilde;o dos avan&ccedil;os tecnol&oacute;gicos da Medicina. Isto &eacute;, fazendo com que todos a eles possam aceder. Para garantir a sua consolida&ccedil;&atilde;o e sustentabilidade, o processo de requalifica&ccedil;&atilde;o do SNS deve continuar, com particular import&acirc;ncia na centralidade do cidad&atilde;o em rela&ccedil;&atilde;o ao funcionamento do sistema. &Eacute; este o caminho que permite valorizar a aposta na qualidade, entendida como uma dimens&atilde;o global, que inclui as quest&otilde;es de natureza t&eacute;cnica, mas tamb&eacute;m a satisfa&ccedil;&atilde;o dos utentes, os ganhos em sa&uacute;de e a efici&ecirc;ncia. Quais as 3 medidas (e apenas as 3 +!) estruturantes mais importantes que se prop&otilde;em concretizar na pr&oacute;xima legislatura para melhorar/transformar o sistema de sa&uacute;de portugu&ecirc;s (se poss&iacute;vel, quantificar e calendarizar). PS - 1. Prosseguir a reforma dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, generalizando as USF a todo o pa&iacute;s e organizando as outras unidades funcionais dos ACES. 2. Antecipar a conclus&atilde;o dos 15 mil lugares da rede de cuidados continuados integrados para 2013. 3. Melhorar o acesso ao SNS: generalizar o atendimento de casos de doen&ccedil;a aguda no pr&oacute;prio dia, nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios; diminuir significativamente o tempo de acesso &agrave;s consultas de especialidade hospitalar; consolidar e melhorar os resultados da resposta cir&uacute;rgica; organizar de modo mais harmonioso os processos de cuidados multidisciplinares, em particular na doen&ccedil;a oncol&oacute;gica. Qual a import&acirc;ncia que atribuem &agrave; Medicina Familiar, em termos de plano estrat&eacute;gico para o Sistema de Sa&uacute;de? PS - Um papel central. Os cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios devem ser o eixo fundamental do SNS e da sua liga&ccedil;&atilde;o aos cidad&atilde;os. &Eacute; neste n&iacute;vel de cuidados que podemos combinar, de modo mais equilibrado, a proximidade, t&atilde;o cara aos cidad&atilde;os, com a qualidade, que &eacute; imperativo assegurar. S&atilde;o tamb&eacute;m um instrumento essencial para reorientar o SNS para a promo&ccedil;&atilde;o da sa&uacute;de, cada vez mais relevante face &agrave;s principais causas de morbilidade e mortalidade que atingem os portugueses. A escassez de m&eacute;dicos de fam&iacute;lia &eacute; um dado adquirido, como tamb&eacute;m o &eacute; o de que a m&eacute;dia et&aacute;ria deste grupo profissional &eacute; muito elevada. De acordo com alguns estudos, dentro de 4 a 6 anos, esta car&ecirc;ncia atingir&aacute; mesmo um n&iacute;vel dram&aacute;tico. Como ultrapassar o problema? PS - Prosseguiremos, neste dom&iacute;nio, o trabalho realizado na anterior legislatura. Um aspecto essencial ser&aacute; manter o alargamento das vagas para os cursos de Medicina (passaram de cerca de 1100, em 2004, para 1658 em 2009/2010, o maior n&uacute;mero ap&oacute;s o 25 de Abril), a que se juntou o novo curso da Universidade do Algarve, permitindo atrair m&eacute;dicos para a regi&atilde;o Sul do pa&iacute;s. Por outro lado, continuaremos a garantir um m&iacute;nimo de 25% das vagas para a especializa&ccedil;&atilde;o em Medicina Geral e Familiar. Entre 2005 e 2009, entraram na forma&ccedil;&atilde;o desta especialidade 1.100 m&eacute;dicos, n&uacute;mero que tem vindo a crescer ano ap&oacute;s ano. Foram 314 em 2009 e ser&atilde;o mais ainda em 2010. Estas medidas estruturais, aliadas a formas de estimular os actuais profissionais a adiar um pouco a passagem &agrave; situa&ccedil;&atilde;o de reformado, ser&atilde;o suficientes para ultrapassar o problema. Para a escassez de especialistas em Medicina Geral e Familiar no Servi&ccedil;o Nacional de Sa&uacute;de, contribui ainda a fuga de muitos profissionais para o sector privado, onde v&atilde;o encontrar melhores condi&ccedil;&otilde;es de trabalho. O que pretendem fazer para contrariar esta tend&ecirc;ncia? PS - A sa&iacute;da de profissionais para o sector privado, se bem que causando alguma perturba&ccedil;&atilde;o pontual, n&atilde;o tem express&atilde;o significativa. O que continuaremos a fazer &eacute; assegurar a capacidade de atrac&ccedil;&atilde;o do sector p&uacute;blico. Neste plano, verificamos, com agrado, que muitos dos rec&eacute;m-especialistas em Medicina Geral e Familiar est&atilde;o profundamente envolvidos na cria&ccedil;&atilde;o de USF. A reforma dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, assente na centralidade das pessoas e no envolvimento directo dos profissionais, contribui significativamente para fixar no SNS m&eacute;dicos de que tantos necessitamos. Muito embora as maiores lacunas de especialistas se fa&ccedil;am sentir nas periferias urbanas, a verdade &eacute; que persistem graves car&ecirc;ncias nas regi&otilde;es do interior. Que incentivos poder&atilde;o motivar um m&eacute;dico de fam&iacute;lia a optar, por exemplo, por uma zona rural, renunciando ao exerc&iacute;cio em grandes centros urbanos? PS - Essa op&ccedil;&atilde;o tem que ser encorajada de diversas formas. Desde logo, motivando a forma&ccedil;&atilde;o de especialistas tamb&eacute;m no mundo rural, tirando partido da excel&ecirc;ncia de muitos dos m&eacute;dicos de fam&iacute;lia que exercem nessas zonas e da possibilidade de interac&ccedil;&atilde;o entre centros de sa&uacute;de do interior e das grandes cidades. Um segundo elemento tem a ver com as vagas preferenciais que legisl&aacute;mos recentemente e que permitir&atilde;o a jovens m&eacute;dicos seleccionar determinados locais para realizar a sua forma&ccedil;&atilde;o e receber uma bolsa adicional, a troco do compromisso de exercer a profiss&atilde;o no local em causa por um per&iacute;odo que ter&aacute;, no m&iacute;nimo, a dura&ccedil;&atilde;o do internato. Por &uacute;ltimo, &eacute; expect&aacute;vel que a continuidade da reforma dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios e o seu consequente desenvolvimento no interior venham a refor&ccedil;ar condi&ccedil;&otilde;es de atrac&ccedil;&atilde;o para os jovens profissionais. Uma das solu&ccedil;&otilde;es encontradas pela administra&ccedil;&atilde;o da sa&uacute;de para suprir a falta de m&eacute;dicos, tem sido a da contrata&ccedil;&atilde;o de cl&iacute;nicos estrangeiros, na maioria dos casos sem qualquer diferencia&ccedil;&atilde;o t&eacute;cnica. Ao mesmo tempo que n&atilde;o &eacute; dado aos jovens especialistas portugueses qualquer vinculo contratual est&aacute;vel. Pretendem alterar este quadro? O que prop&otilde;em? PS - Entendemos a contrata&ccedil;&atilde;o de profissionais estrangeiros como uma medida transit&oacute;ria, limitada no tempo. Ela visa, exclusivamente, assegurar acesso a cuidados m&eacute;dicos a popula&ccedil;&otilde;es que, de outro modo, ficariam a descoberto, numa inaceit&aacute;vel discrimina&ccedil;&atilde;o. Quando refere a aus&ecirc;ncia de diferencia&ccedil;&atilde;o t&eacute;cnica dos m&eacute;dicos estrangeiros, quero real&ccedil;ar que foram admitidos isso n&atilde;o se aplica a todos. Mas, mais importante ainda, &eacute; que todos eles, antes de contratados, foram submetidos a avalia&ccedil;&otilde;es rigorosas pelas Universidades Portuguesas e reconhecidos pela Ordem dos M&eacute;dicos. Mas esta contrata&ccedil;&atilde;o n&atilde;o substitui as medidas estruturais atr&aacute;s enunciadas, que visam garantir m&eacute;dico de fam&iacute;lia a todos os portugueses. Em rela&ccedil;&atilde;o aos especialistas nacionais, o que estamos a fazer - e vamos continuar - &eacute; garantir a sua progressiva contrata&ccedil;&atilde;o pelo Estado, em regime de contrato de trabalho em fun&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas. Fica, assim, assegurada a sua estabilidade profissional. Defendem o regime de exclusividade para os profissionais que exercem no Servi&ccedil;o Nacional de Sa&uacute;de? PS - Desejamos que, de um modo gradual, seja estabelecida uma separa&ccedil;&atilde;o mais clara entre os sectores p&uacute;blico e privado. Mas isso dever&aacute; ser concretizado progressivamente. Primeiro, o pa&iacute;s tem que reunir condi&ccedil;&otilde;es. E h&aacute; que esperar que a reforma dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios permita atingir n&iacute;veis de qualidade e de satisfa&ccedil;&atilde;o, nomeadamente dos m&eacute;dicos, que garantam a manuten&ccedil;&atilde;o do servi&ccedil;o p&uacute;blico. No contexto da reforma em curso nos Cuidados de Sa&uacute;de Prim&aacute;rios: a) O modelo de reforma adoptado conduziu &agrave; extin&ccedil;&atilde;o das sub-regi&otilde;es de sa&uacute;de e &agrave; organiza&ccedil;&atilde;o dos centros de sa&uacute;de CSP em agrupamentos de centros de sa&uacute;de (ACES) dependentes das administra&ccedil;&otilde;es regionais de sa&uacute;de (que t&ecirc;m o estatuto de Institutos P&uacute;blicos). Concordam com este modelo? Se n&atilde;o, que alternativas prop&otilde;em? PS - Esta componente da reforma est&aacute; ainda a dar os primeiros passos. No entanto, s&atilde;o j&aacute; vis&iacute;veis, em muitas zonas do pa&iacute;s, os benef&iacute;cios do novo modelo organizativo. Estou a falar, por exemplo, da aproxima&ccedil;&atilde;o da gest&atilde;o de recursos &agrave; comunidade e do apelo ao envolvimento desta, bem como da introdu&ccedil;&atilde;o da hierarquia t&eacute;cnica nos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios. b) A par com a cria&ccedil;&atilde;o dos ACES, foram definidos grupos de centros de sa&uacute;de que integrar&atilde;o unidades locais de sa&uacute;de (que t&ecirc;m o estatuto de entidades p&uacute;blicas empresariais). N&atilde;o tendo o modelo ULS sido ainda avaliado consistentemente entre n&oacute;s e existindo mesmo evid&ecirc;ncia internacional desaconselhando este tipo de modelo, pensa que ainda assim se deve avan&ccedil;ar com a cria&ccedil;&atilde;o de ULS em Portugal? PS - O modelo das ULS tem como principal vantagem te&oacute;rica contribuir para resolver uma das dificuldades apontadas ao SNS: facilitar a circula&ccedil;&atilde;o do cidad&atilde;o entre os diferentes n&iacute;veis de cuidados, potenciada pela articula&ccedil;&atilde;o funcional e org&acirc;nica desses mesmos cuidados. Em contraponto, h&aacute; o receio da subalterniza&ccedil;&atilde;o dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios, com menor massa cr&iacute;tica. Existem, actualmente, seis ULS, que abrangem menos de 10% dos portugueses. Mais a maior parte delas tem menos de um ano de exist&ecirc;ncia, tempo insuficiente para que se possa proceder a uma avalia&ccedil;&atilde;o consistente. O que deve ser feito, prioritariamente, &eacute; acompanhar a implementa&ccedil;&atilde;o destas ULS, de modo a garantir a concretiza&ccedil;&atilde;o dos benef&iacute;cios potenciais. Todo o processo deve, depois, dentro de 2 ou 3 anos, ser avaliado, permitindo uma decis&atilde;o sustentada sobre o futuro do modelo. c) Qual o grau de autonomia que dever&aacute; ser concedida aos ACES? PS - A autonomia administrativa, actualmente consagrada, deve ser desenvolvida e aproveitada em todas as suas potencialidades. Essa autonomia deve basear-se numa clara contratualiza&ccedil;&atilde;o com a Administra&ccedil;&atilde;o Regional de Sa&uacute;de respectiva, numa ampla delega&ccedil;&atilde;o de compet&ecirc;ncias por parte desta e na profissionaliza&ccedil;&atilde;o das actividades de natureza burocr&aacute;tica. Assim, a gest&atilde;o dos ACES concentrar-se-&aacute; na presta&ccedil;&atilde;o de cuidados, alocando os recursos &agrave;s necessidades identificadas e dando prioridade ao aspecto central da gest&atilde;o dos recursos humanos. d) Existiu, no passado, um consenso generalizado por parte dos diferentes partidos, sobre a bondade da cria&ccedil;&atilde;o dos centros de sa&uacute;de de 3&ordf; gera&ccedil;&atilde;o, previstos no DL 157/99, entretanto revogado. Tendo em conta que os princ&iacute;pios gerais que conduziram &agrave; cria&ccedil;&atilde;o dos ACES foram, grosso modo, os mesmos que fundamentaram a cria&ccedil;&atilde;o dos CS 3&ordf; Gera&ccedil;&atilde;o, pensam que tal como previsto para estes, deveria ser concedida aos ACES autonomia financeira? PS - A autonomia financeira &eacute; uma falsa quest&atilde;o. A implementa&ccedil;&atilde;o de modelos de contrato programa indutores da autonomia, associados &agrave; defini&ccedil;&atilde;o alargada de compet&ecirc;ncias delegadas, permitir&aacute; aos ACES assegurar todos os benef&iacute;cios dessa autonomia. Por outro lado, permitir&aacute; evitar uma esp&eacute;cie de sub-regi&otilde;es de sa&uacute;de em ponto pequeno, excessivamente concentradas nos aspectos burocr&aacute;ticos da organiza&ccedil;&atilde;o do sistema de sa&uacute;de. e) Ainda neste contexto... Concordam com a ideia de que os agrupamentos de centros de sa&uacute;de s&oacute; possam gozar de autonomia financeira, quando agregados a unidades hospitalares, como actualmente acontece? PS - O que acontece nos ACES integrados em ULS decorre da sua integra&ccedil;&atilde;o em estruturas p&uacute;blicas empresariais, com regras muito mais flex&iacute;veis do que as do sector p&uacute;blico administrativo. Estamos, no entanto, abertos &agrave; possibilidade de transformar alguns dos Agrupamentos em entidades p&uacute;blicas empresariais, monitorizando os resultados desse processo. f) As unidades de sa&uacute;de familiar, constitu&iacute;das por equipas multiprofissionais, orientadas para a comunidade, com flexibilidade organizativa e de gest&atilde;o; desburocratiza&ccedil;&atilde;o; autonomia e responsabiliza&ccedil;&atilde;o; melhoria cont&iacute;nua da qualidade, contratualiza&ccedil;&atilde;o e avalia&ccedil;&atilde;o e... um modelo remunerat&oacute;rio sens&iacute;vel ao desempenho, s&atilde;o hoje a face mais vis&iacute;vel da reforma em curso nos CSP. Considera que este modelo deveria ser generalizado ao conjunto de unidades funcionais que integram os ACES? Se n&atilde;o, que alternativas prop&otilde;em? PS - Sim. &Eacute; esse o modelo que pretendemos. Come&ccedil;aremos por consolid&aacute;-lo em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s USF e por implement&aacute;-lo nas Unidades de Cuidados na Comunidade. Mas queremos estend&ecirc;-lo a todas as unidades. g) Defendem o alargamento deste princ&iacute;pio organizacional a todo o Servi&ccedil;o Nacional de Sa&uacute;de? PS - Sim. Desde logo, tentaremos criar nos hospitais modelos de organiza&ccedil;&atilde;o que importem das USF os conceitos de autonomia, contratualiza&ccedil;&atilde;o e responsabiliza&ccedil;&atilde;o. h) Pese a autonomia organizacional de que gozam as USF, a verdade &eacute; que em muitos aspectos, permanecem dependentes das ARS. Por exemplo, no que toca &agrave; dimens&atilde;o financeira... Concordam com o aprofundamento desta autonomia? PS - A rela&ccedil;&atilde;o de proximidade entre as USF e os ACES dever&aacute; permitir uma maior agilidade na gest&atilde;o de alguns aspectos ainda n&atilde;o autonomizados. Por&eacute;m, a nossa linha essencial &eacute; a de profissionalizar a gest&atilde;o das actividades administrativas, essenciais mas n&atilde;o estrat&eacute;gicas, criando condi&ccedil;&otilde;es refor&ccedil;adas para que as unidades prestadoras de cuidados se concentrem nas quest&otilde;es de natureza assistencial, formativa e de investiga&ccedil;&atilde;o. i) N&atilde;o obstante algumas melhorias registadas nos &uacute;ltimos anos, a verdade &eacute; que persiste uma deficiente interliga&ccedil;&atilde;o entre os cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios e os secund&aacute;rios. Com preju&iacute;zo &oacute;bvio, quer em temos de qualidade da presta&ccedil;&atilde;o, quer no que toca &agrave; melhoria da acessibilidade. Que modelo de liga&ccedil;&atilde;o defendem para estes dois n&iacute;veis de presta&ccedil;&atilde;o? PS - Tamb&eacute;m neste dom&iacute;nio os ACES representar&atilde;o uma mudan&ccedil;a significativa. A exist&ecirc;ncia de uma direc&ccedil;&atilde;o cl&iacute;nica nos Agrupamentos dever&aacute; permitir facilitar o desenvolvimento de manuais de articula&ccedil;&atilde;o entre os centros de sa&uacute;de e os hospitais de refer&ecirc;ncia. O desenvolvimento dos sistemas de informa&ccedil;&atilde;o de nova gera&ccedil;&atilde;o, centrados no cidad&atilde;o, deve contribuir para este processo. S&atilde;o os casos da implementa&ccedil;&atilde;o da Consulta a Tempo e Horas, em fase de conclus&atilde;o, e do processo cl&iacute;nico electr&oacute;nico. j) No plano estrat&eacute;gico da reforma dos CSP prev&ecirc;-se a contratualiza&ccedil;&atilde;o externa "com entidades/USF de propriedade ou com gest&atilde;o n&atilde;o p&uacute;blica (cooperativas, conven&ccedil;&atilde;o, ou outras)". Por exemplo, a concess&atilde;o da gest&atilde;o e presta&ccedil;&atilde;o de cuidados a grupos de profissionais de sa&uacute;de ou a entidades do sector social ou privado, ou ainda autarquias? Concordam com esta op&ccedil;&atilde;o? No todo... Em parte... Em que situa&ccedil;&otilde;es? PS - Essa op&ccedil;&atilde;o dever&aacute; ficar reservada para uma fase da reforma em que possamos considerar que se trata do melhor instrumento poss&iacute;vel para assegurar a presta&ccedil;&atilde;o de cuidados a determinadas popula&ccedil;&otilde;es. Neste momento, a ades&atilde;o dos profissionais ao processo de cria&ccedil;&atilde;o de USF deixa-nos confort&aacute;veis com a ideia de que esse ser&aacute; apenas um recurso de reserva. k) Com o correr da reforma, chegou-se a uma situa&ccedil;&atilde;o em que numa mesma regi&atilde;o, h&aacute; utentes atendidos em consultas com hora marcada... Marcadas atrav&eacute;s da internet ou por telefone, em USF instaladas em edif&iacute;cios "confort&aacute;veis", informatizadas, onde vigora o sistema de intersubstitui&ccedil;&atilde;o, com carteira adicionais de servi&ccedil;os prestados &agrave; popula&ccedil;&atilde;o e... Utentes sem m&eacute;dico de fam&iacute;lia atribu&iacute;do, com dif&iacute;cil acesso aos cuidados de sa&uacute;de... A funcionar em edif&iacute;cios sem as m&iacute;nimas condi&ccedil;&otilde;es. Como resolver esta desigualdade? O investimento necess&aacute;rio &eacute; de monta... PS - &Eacute; preciso, acima de tudo, manter e acarinhar o que est&aacute; bem. N&atilde;o ser&aacute; &uacute;til para ningu&eacute;m destruir o que funciona de modo adequado, apenas porque ainda n&atilde;o atinge todos. O n&uacute;mero de portugueses atendidos em USF &eacute; j&aacute; de 2,5 milh&otilde;es e tem aumentado de m&ecirc;s para m&ecirc;s. Temos confian&ccedil;a de que estar&aacute; generalizado no final da pr&oacute;xima legislatura. Por outro lado, temos identificadas as quest&otilde;es essenciais que dizem respeito a infra-estruturas. Queremos investir, nos pr&oacute;ximos 3 anos, 150 milh&otilde;es de euros, que v&atilde;o permitir resolver grande parte dos problemas existentes. Muitos destes processos, nomeadamente em concelhos mais carenciados a este n&iacute;vel - Odivelas, Sintra, Lisboa - est&atilde;o j&aacute; em curso. l) Um dos aspectos mais cr&iacute;ticos da reforma em curso, respeita &agrave; mobilidade dos profissionais... &Eacute; poss&iacute;vel agilizarem-se os processos? O que prop&otilde;em? PS - A cria&ccedil;&atilde;o das USF melhorou muito a mobilidade dos profissionais. Pretendemos assegurar que assim continue e que os processos administrativos sejam facilitados, dentro do quadro geral de desburocratiza&ccedil;&atilde;o e profissionaliza&ccedil;&atilde;o da gest&atilde;o anteriormente referido. Forma&ccedil;&atilde;o pr&eacute; e p&oacute;s graduada: a) Foi publicado, recentemente, o programa do Internato de Medicina Geral e Familiar e alargado para quatro anos a sua dura&ccedil;&atilde;o. Prop&otilde;em mais alguma altera&ccedil;&atilde;o nesta &aacute;rea? PS - A nossa op&ccedil;&atilde;o pela centralidade dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios exige uma aten&ccedil;&atilde;o redobrada quanto &agrave; forma&ccedil;&atilde;o dos especialistas nesta &aacute;rea. Por isso, procedemos ao alargamento do per&iacute;odo de forma&ccedil;&atilde;o e procuraremos, agora, assegurar a qualidade do processo formativo, valorizando a actividade de investiga&ccedil;&atilde;o cl&iacute;nica. b) V&ecirc;em com bons olhos a cria&ccedil;&atilde;o de Centros de Sa&uacute;de de Excel&ecirc;ncia com condi&ccedil;&otilde;es, ou especialmente vocacionados para o ensino da especialidade de MGF e da Enfermagem de Fam&iacute;lia? PS - O nosso objectivo &eacute; ter condi&ccedil;&otilde;es de forma&ccedil;&atilde;o no maior n&uacute;mero poss&iacute;vel de unidades de sa&uacute;de. A presen&ccedil;a de internos &eacute; muito importante para o pr&oacute;prio funcionamento das unidades de sa&uacute;de, contribuindo para o perfil de exerc&iacute;cio profissional de todos os que a&iacute; trabalham. Isto n&atilde;o exclui o interesse em desenvolver unidades com maior voca&ccedil;&atilde;o para as actividades de forma&ccedil;&atilde;o. Algumas delas podem at&eacute; estabelecer uma rela&ccedil;&atilde;o particularmente estreita com escolas m&eacute;dicas, como vai acontecer entre a USF do Parque / Centro de Sa&uacute;de de Alvalade e a Faculdade de Medicina de Lisboa. c) Quais as propostas que defendem relativamente &agrave; forma&ccedil;&atilde;o m&eacute;dica cont&iacute;nua? Manter o actual quadro (quase tudo a cargo da Ind&uacute;stria Farmac&ecirc;utica) ou uma interven&ccedil;&atilde;o activa (leia-se reguladora e financiadora) do Estado? PS - Necessitamos, nesta &aacute;rea, de um maior envolvimento das organiza&ccedil;&otilde;es profissionais e das sociedades cient&iacute;ficas. Desde logo, na valida&ccedil;&atilde;o - efectiva e n&atilde;o formal - do interesse formativo de v&aacute;rias das actividades realizadas. Mas tamb&eacute;m numa atitude proactiva que pode e deve ter apoio p&uacute;blico. Isto n&atilde;o exclui a coopera&ccedil;&atilde;o da ind&uacute;stria farmac&ecirc;utica. Mas dela n&atilde;o pode depender o essencial da forma&ccedil;&atilde;o cont&iacute;nua e, sobretudo, a forma&ccedil;&atilde;o por ela apoiada tem de ser mais transparente, sem que se possa confundir com actividade excursionista. O Servi&ccedil;o Nacional de Sa&uacute;de e na verdade toda a actividade em Sa&uacute;de tem por base a presta&ccedil;&atilde;o m&eacute;dica, deixando na sombra os outros grupos profissionais... J&aacute; noutros pa&iacute;ses, a Sa&uacute;de est&aacute; apoiada no protagonismo dos Enfermeiros e dos outros grupos profissionais de sa&uacute;de (Psic&oacute;logos Cl&iacute;nicos, Nutricionistas, Terapeutas...). Pensa que seria vantajoso alterar este quadro? PS - Temos, nessa mat&eacute;ria, uma ambi&ccedil;&atilde;o modernizadora, reconhecida na natureza multiprofissional das USF e das outras unidades funcionais. Temos vindo a alargar a interven&ccedil;&atilde;o dos enfermeiros e o n&uacute;mero destes profissionais a trabalhar nos centros de sa&uacute;de. Pela primeira vez, nas USF, h&aacute; um padr&atilde;o que define o mesmo n&uacute;mero de enfermeiros e de m&eacute;dicos. Estamos tamb&eacute;m a recrutar outros profissionais para os centros de sa&uacute;de: nutricionistas, psic&oacute;logos, higienistas orais, fisioterapeutas, assistentes sociais. A coexist&ecirc;ncia de diferentes grupos profissionais &eacute; essencial para permitir uma resposta qualificada &agrave;s necessidades de sa&uacute;de emergentes, aumentando a resolutividade dos cuidados de sa&uacute;de prim&aacute;rios.

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